A
arte batizou-o de Bolondo, mas nas horas em que descansa do ofício conhece-se
por Papino Simão Mbongo. O seu sonho é ser do mundo, e alguns países já
conquistou. É em Angola que alimenta as suas raízes, mas quando nos fala é a
acentuação das letras que comprova que África não foi o seu único lar. Em
conversa viemos a saber que fez vida em França, onde participou em exposições coletivas.
Graduou-se em artes plásticas pela Academia de Belas Artes, na República
Democrática do Congo, e foi lá que passou parte da sua vida, junto da sua
família. A arte surge-lhe na infância e o formato que assume é em banda
desenhada. Hoje, não são mais as histórias aos quadradinhos que lhe impulsionam
a veia artística, mas a mulher retratada à luz do expressionismo. A cor é-lhe
sinónimo de vida, daí a explosão cromática em cada obra que pinta. O que o
guia? O instinto. Quem o inspira? Deus. Quando questionado sobre a origem do
nome artístico, rapidamente responde: «Bolondo é um nome com poder em Angola,
como um embondeiro, a árvore típica do país». Só passado algum tempo é que
percebemos do que fala – após alguma reflexão. O embondeiro é a árvore que contempla
o mundo com vagar e experiência, só tem folhas na altura devida e é económica
nos gestos. Tal como o modo de ser de Bolondo. O embondeiro sussurra África, o
seu pôr do sol escaldante, as suas cores garridas e as mulheres que carregam os
filhos de uma nação ao peito. Tal como a arte de Bolondo. A analogia ficou-nos
gravada na memória, e este parece ser um bom ponto de partida para o ficar a
conhecer.
Bolondo Mbongo
«O sonho de todo o artista é ser do mundo»
Com
a guerra civil a assolar Angola, refugia-se na República Democrática do Congo com
a sua família. Essa fase da adolescência moldou a pessoa que é hoje?
Essa fase foi muito difícil, mas o tempo cura tudo. Grande parte da minha vida passou-se no Congo. Estudei lá, na Academia de Belas Artes, e só depois voltei para Angola. Foi um tempo duro, mas ao mesmo tempo de aprendizagem.
Começou por desenvolver a expressão artística pela banda desenhada.
Na minha infância adorava banda desenhada. Diria que foi o meu primeiro contacto com a arte, que com o tempo acabou por passar. Na Academia de Belas Artes, aprofundei pintura, e até hoje permanece como principal paixão.
Como é que um artista se torna artista?
Tem que ver com o espírito de cada um. Há muitos que não conseguem enveredar pela arte por ser um caminho difícil, então desistem. Depois de formados na área, tudo depende da fé que cada um coloca no seu trabalho. O valor que damos às nossas obras é o que faz de nós artistas, a par com a qualidade com que pintamos e a alma que colocamos nisso.
Olhando para os primeiros quadros que pintou sente vontade de refazê-los?
Os meus trabalhos antigos eram diferentes, estilo máscara, asfalto. Tentei fazer disso a minha arte, mas quando chego a Angola percebo que esse estilo não era entendido pelo público angolano, que a minha mensagem não estava a passar. No Congo entendiam, mas quando cheguei a Angola tive de me adaptar. Portanto, o meu trabalho foi evoluindo conforme o tempo e o espaço, e desde que saí de Belas Artes noto ainda mais essa tendência. Por isso, não sei se mudaria alguma coisa nos meus primeiros trabalhos, a arte nunca foi sempre a mesma desde que decidi ser artista.
Que vanguarda influencia a sua arte?
O expressionismo.
Nas suas telas pintadas a óleo revela interesse na representação da figura feminina. Porquê escolher a mulher como musa das suas criações?
Sem a mulher o homem não existia. É ela quem dá a vida e ajuda a constituir uma sociedade. Gosto muito de falar sobre a mulher porque tem, de facto, um papel muito importante num país, numa sociedade, no mundo. E a figura feminina que represento não escolhe uma etnia ou estilo. Desenho simplesmente a mulher, com a diversidade que existe.
A cor é também um fator estrutural das suas obras, destacadas pelas explosões cromáticas...
70% do trabalho é pensado para o artista, 30% é idealizado para o cliente. Eu sempre quis ser diferente do comum, destacar-me pelo meu próprio estilo. Preservar essa individualidade. Daí a explosão de cores e outros detalhes presentes nas obras que pinto. Quando alguém vê as minhas obras sabe identificar que fui eu quem as fez, e isso acontece porque tenho alma de artista. Procuro sempre fazer diferente do que me rodeia.
Qual é a sua cor preferida?
Gosto muito de dourado.
Com a tela em branco à sua frente, pega no pincel e deixa o resto a cargo da intuição?
É difícil explicar todo o processo. Pego no pincel, na espátula, e deixo-me simplesmente levar. O resultado é fruto, essencialmente, da intuição.
«O valor que damos às nossas obras é o que faz de nós artistas»
Essa fase foi muito difícil, mas o tempo cura tudo. Grande parte da minha vida passou-se no Congo. Estudei lá, na Academia de Belas Artes, e só depois voltei para Angola. Foi um tempo duro, mas ao mesmo tempo de aprendizagem.
Começou por desenvolver a expressão artística pela banda desenhada.
Na minha infância adorava banda desenhada. Diria que foi o meu primeiro contacto com a arte, que com o tempo acabou por passar. Na Academia de Belas Artes, aprofundei pintura, e até hoje permanece como principal paixão.
Como é que um artista se torna artista?
Tem que ver com o espírito de cada um. Há muitos que não conseguem enveredar pela arte por ser um caminho difícil, então desistem. Depois de formados na área, tudo depende da fé que cada um coloca no seu trabalho. O valor que damos às nossas obras é o que faz de nós artistas, a par com a qualidade com que pintamos e a alma que colocamos nisso.
Olhando para os primeiros quadros que pintou sente vontade de refazê-los?
Os meus trabalhos antigos eram diferentes, estilo máscara, asfalto. Tentei fazer disso a minha arte, mas quando chego a Angola percebo que esse estilo não era entendido pelo público angolano, que a minha mensagem não estava a passar. No Congo entendiam, mas quando cheguei a Angola tive de me adaptar. Portanto, o meu trabalho foi evoluindo conforme o tempo e o espaço, e desde que saí de Belas Artes noto ainda mais essa tendência. Por isso, não sei se mudaria alguma coisa nos meus primeiros trabalhos, a arte nunca foi sempre a mesma desde que decidi ser artista.
Que vanguarda influencia a sua arte?
O expressionismo.
Nas suas telas pintadas a óleo revela interesse na representação da figura feminina. Porquê escolher a mulher como musa das suas criações?
Sem a mulher o homem não existia. É ela quem dá a vida e ajuda a constituir uma sociedade. Gosto muito de falar sobre a mulher porque tem, de facto, um papel muito importante num país, numa sociedade, no mundo. E a figura feminina que represento não escolhe uma etnia ou estilo. Desenho simplesmente a mulher, com a diversidade que existe.
A cor é também um fator estrutural das suas obras, destacadas pelas explosões cromáticas...
70% do trabalho é pensado para o artista, 30% é idealizado para o cliente. Eu sempre quis ser diferente do comum, destacar-me pelo meu próprio estilo. Preservar essa individualidade. Daí a explosão de cores e outros detalhes presentes nas obras que pinto. Quando alguém vê as minhas obras sabe identificar que fui eu quem as fez, e isso acontece porque tenho alma de artista. Procuro sempre fazer diferente do que me rodeia.
Qual é a sua cor preferida?
Gosto muito de dourado.
Com a tela em branco à sua frente, pega no pincel e deixa o resto a cargo da intuição?
É difícil explicar todo o processo. Pego no pincel, na espátula, e deixo-me simplesmente levar. O resultado é fruto, essencialmente, da intuição.
«O valor que damos às nossas obras é o que faz de nós artistas»
É
pai de três filhos. Acredita que a paternidade tenha mudado a sua visão sobre a
vida e a arte?
Sim. Bem, a vida não é fácil, e viver bem em África é tarefa árdua. O mundo dos artistas também é complicado e agora com a crise, os preços sempre a subirem, a dificuldade em expor obras e vendê-las... é difícil. Hoje considero que esteja bem, mas quando se é pai pensa-se ainda mais nestas questões. Os meus filhos motivam-me e são o meu pensamento, trabalho muito para lhes conseguir proporcionar tudo aquilo que anseio.
Diga-nos, tudo é arte?
Sim, tudo na minha vida é arte. Aliás, eu vivo para a arte.
Se não fosse artista, o que seria?
Quando era criança dizia que queria ser piloto de avião (risos).
Há alguém que o inspire?
Só Deus me inspira, o meu estilo é próprio.
Como definiria o belo?
O belo são os valores. O belo é a mulher.
Que trabalhos tem em mãos, neste momento?
Tenho a exposição Passado e Presente: As Portas do Futuro, no Memorial Dr. António Agostinho Neto. Trata-se de uma reflexão sobre o tempo e a forma como é importante olhar o passado para criar o futuro. É abordado o valor do tempo e o compromisso para com o futuro.
Qual é a sua obra preferida?
É difícil responder, porque todas as minhas obras são especiais. Todas elas são diferentes, mas bonitas à sua maneira.
Há algum projeto de futuro que deseje partilhar?
Em breve, vou estar em Portugal para participar numa exposição coletiva muito interessante.
Como se poderá aproximar ainda mais a população angolana da arte?
Angola tem crescido muito no domínio da arte. Já temos vários artistas angolanos a dar cartas na área, inclusive a ganhar visibilidade no exterior. Noto que há muitos jovens a quererem seguir este caminho.
E o Bolondo quer ficar por Angola ou expandir-se pelo mundo?
O sonho de todo o artista é ser do mundo. Quero que toda a gente conheça o trabalho do Bolondo. Também não gosto de ficar muito tempo num sítio e estou a pensar mudar de ares, talvez ficar por Portugal durante algum tempo.
Sim. Bem, a vida não é fácil, e viver bem em África é tarefa árdua. O mundo dos artistas também é complicado e agora com a crise, os preços sempre a subirem, a dificuldade em expor obras e vendê-las... é difícil. Hoje considero que esteja bem, mas quando se é pai pensa-se ainda mais nestas questões. Os meus filhos motivam-me e são o meu pensamento, trabalho muito para lhes conseguir proporcionar tudo aquilo que anseio.
Diga-nos, tudo é arte?
Sim, tudo na minha vida é arte. Aliás, eu vivo para a arte.
Se não fosse artista, o que seria?
Quando era criança dizia que queria ser piloto de avião (risos).
Há alguém que o inspire?
Só Deus me inspira, o meu estilo é próprio.
Como definiria o belo?
O belo são os valores. O belo é a mulher.
Que trabalhos tem em mãos, neste momento?
Tenho a exposição Passado e Presente: As Portas do Futuro, no Memorial Dr. António Agostinho Neto. Trata-se de uma reflexão sobre o tempo e a forma como é importante olhar o passado para criar o futuro. É abordado o valor do tempo e o compromisso para com o futuro.
Qual é a sua obra preferida?
É difícil responder, porque todas as minhas obras são especiais. Todas elas são diferentes, mas bonitas à sua maneira.
Há algum projeto de futuro que deseje partilhar?
Em breve, vou estar em Portugal para participar numa exposição coletiva muito interessante.
Como se poderá aproximar ainda mais a população angolana da arte?
Angola tem crescido muito no domínio da arte. Já temos vários artistas angolanos a dar cartas na área, inclusive a ganhar visibilidade no exterior. Noto que há muitos jovens a quererem seguir este caminho.
E o Bolondo quer ficar por Angola ou expandir-se pelo mundo?
O sonho de todo o artista é ser do mundo. Quero que toda a gente conheça o trabalho do Bolondo. Também não gosto de ficar muito tempo num sítio e estou a pensar mudar de ares, talvez ficar por Portugal durante algum tempo.