O ponto de partida pode ter início em qualquer umas das histórias por aqui alojadas no tempo. Podemos, desde logo, começar a nossa viagem pela história do lugar. O Real Gabinete Português de Leitura torna-se pequeno para tão majestosas histórias que carrega. Aqui há um mundo inteiro na força dos livros. Há leitura para cada itinerário nosso. Há um universo por descobrir e sentir, através de cada obra exposta. Construído por portugueses, com término em 1837, é no coração do Rio de Janeiro, na Rua Luís de Camões n.º 30, que o projeto arquitetónico, da autoria de Rafael da Silva Castro – um arquiteto português com traço neomanuelino – e inspirado no magnífico Mosteiro dos Jerónimos e na Torre de Belém (em Lisboa, Portugal), revela a imponência do sítio. É majestoso. Aqui ergueram-se estátuas de Pedro Álvares Cabral, Dom Henrique, Vasco da Gama e Luís de Camões. Os conquistadores e autores da maior história nacional.
De fora, encantamo-nos com a força das fachadas. Lá dentro, maravilhamo-nos com a riqueza dos desenhos, com as estantes em madeira, que são esculpidas à mão e chegam ao teto, e deslumbramo-nos com a claraboia de ferro e vidro, que ilumina o espaço. Os vitrais remontam-nos para as clássicas catedrais da Europa e preenchem-nos o olhar. Encontram-se milhares de livros neste lugar. Desde logo a primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões, de 1572. Uma das riquezas literárias mais conhecidas, senão a mais falada. A biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura é considerada uma das mais belas do mundo.
Aqui há um mundo inteiro na força dos livros
O Gabinete Real é detentor de um importante acervo bibliográfico. No interior, várias obras ornamentam os armários e as paredes, como bustos de D. Manuel I, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano e Padre Manuel da Nóbrega. Neste lugar de culto, o conhecimento adquire-se em cada página e em cada obra. O gosto pela leitura atrai, anualmente, milhares de visitantes, assim como o imponente edifício e todas as histórias que por aqui passaram desde a sua fundação. Com o passar dos anos, passou a haver intercâmbio cultural entre Portugal e o Brasil. O Gabinete Real passou por vários processos de restruturação e Portugal, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros , no governo de Cavaco Silva, assim como no de António Guterres, apoiou a instituição por reconhecer a sua importância para a difração da cultura portuguesa no Brasil; assim como outras entidades apoiaram através de donativos.
O Real Gabinete Português de Leitura possui a mais vasta e valiosa biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal, são mais de 350 mil volumes
O Real Gabinete Português de Leitura possui a mais vasta e valiosa biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal, são mais de 350 mil volumes. Esta biblioteca recebe de Portugal, através do estatuto do «depósito legal», um exemplar das obras publicadas no país. Muitas das obras raras e manuscritos podem ser consultados por investigadores; o acervo geral está disponível aos leitores no salão da biblioteca, mas quem se faz sócio do Real Gabinete pode levantar, pelo período de 15 dias, até três livros – desde que posteriores a 1950. Entre as obras mais raras da biblioteca destacam-se, para além de Os Lusíadas; a edição prínceps; as Ordenações de Dom Manuel, de 1521; os Capitolos de Cortes e Leys, de 1539; manuscritos autografados de Amor de Perdição, entre tantas outras. Neste lugar de viagem, resta-nos ouvir e ler quem nos ficou na História.