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Almir Soares

«Gostaria de ver o Angolan Open tornar-se uma referência mundial»

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No golfe, como na vida, tudo é uma questão de conhecimento, tática, concentração, foco e sorte. Sim, porque até o melhor jogador pode falhar. Seja no golfe ou na vida. Por vezes, jogamos individualmente e, outras vezes, acompanhados. Assim se percorrem os caminhos. Nas linhas que se seguem, deixamos, pelas palavras do presidente da Federação Angolana de Golfe, Almir Soares, as expectativas para o golfe nacional. O trabalho de Almir, economista de formação, com especialidade em mercado de capitais, é levar valores aos mais jovens, atraindo-os em idade escolar. E fazer do golfe uma modalidade mais acessível nas principais províncias. Já passou pelo Brasil, onde ocupou cargos de consultor e analista de mercado numa corretora. Em Angola, fundou a RECREDIT – gestão de ativos –, onde, até aos dias de hoje, ocupa funções. O golfe acaba por ser um catalisador de turismo, o que «pode contribuir para a diversificação da economia». Quando questionado sobre um bom swing ou um bom putt, o presidente confessa que prefere «fazer os 18 buracos abaixo do handicap, porque há dias em que o bom swing faz a diferença, mas há outros em que o putt é a estrela do jogo».
Um dos seus objetivos, enquanto presidente da Federação Angolana de Golfe (FAGOLFE), é expandir o golfe a todo o país. De que forma é que isso se vai concretizar?
A Federação tem o projeto de desenvolvimento da modalidade assente em três pilares: 1.º Desenvolvimento de Infraestruturas; 2.º Formação; 3.º Competições.
O desenvolvimento de qualquer modalidade só é possível quando existem estruturas de apoio para a prática e competição. Neste sentido, o maior constrangimento do golfe, em Angola, é o modesto número de estruturas de campos de prática (driving ranges) e campos de golfe. O desenvolvimento da modalidade passa por investir na construção de estruturas de prática e campos de pitch and putt pelas principais províncias, de preferência em locais onde a população tenha acesso, transformando estas estruturas em centros de promoção e desenvolvimento do golfe.
A formação representa um pilar central no desenvolvimento sustentável da modalidade. Em conjunto com a R&A, criamos o programa «Escolas Nacionais de Golfe», para incentivar crianças em idade escolar. Este programa passa por estabelecer acordos com clubes e escolas, no intuito de formar novos talentos e, também, instrutores de golfe. No golfe, assim como nas demais modalidades desportivas, é importante que se invista nas pessoas, para que possam criar valor e contribuir para uma sociedade melhor.
No quadro das competições, é necessário promover um calendário regular de torneios, de forma a manter o espírito competitivo. Neste sentido, a Federação estreitou laços com a instituição responsável pelo ranking internacional e tornou possível o reconhecimento dos torneios organizados pela Federação. O reconhecimento dos torneios permite aos atletas acumularem pontos para figurarem no cenário internacional da modalidade.

Pretende implementar meios para formação de novos golfistas?
O surgimento de novos golfistas, ou o aumento da população praticante de golfe, de forma sustentada, passa necessariamente por atrair os jovens em idade escolar, por ensinar na escola uma modalidade que possam praticar para o resto das suas vidas. As escolas podem ser o maior catalisador da iniciação do golfe, seja no espaço físico da escola ou no campo de prática mais perto.  

O seu prepósito é colocar Angola ao nível de um destino turístico de golfe?
Os dados sobre o impacto do golfe no turismo, em diversos países, demonstram que a modalidade contribui de forma significativa para o setor. A Federação deve e pode contribuir para a promoção do golfe como a âncora na atração de turistas para Angola. Nos Estados Unidos da América, a indústria do golfe contribui com 84 mil milhões de dólares, anualmente, para a economia, dos quais aproximadamente 24 mil milhões são gerados com turismo de golfe. No continente africano, temos o exemplo do Quênia, que possui 41 campos de golfe, e da África do Sul, com mais de 400 campos. Por isso, também em Angola, as cadeias hoteleiras existentes e as futuras devem investir em espaços voltados para a prática da modalidade, como, por exemplo, espaços indoor com simuladores de golfe ou campos de golfe de 9 buracos. Pois, ao desenvolver infraestruturas de golfe de alta qualidade, ao organizar eventos e torneios de golfe e ao promover os recursos naturais e culturais de Angola, é possível posicionar o país como um destino turístico de golfe. Através de parcerias e iniciativas estratégicas, a Federação de Golfe pode desempenhar um papel importante na promoção do turismo de golfe, em Angola. 

Para Angola ser considerada um destino de golfe, necessita de ter, no mínimo, três campos de golfe. Existem já projetos em curso para a criação de novos campos?
Existem investidores interessados, mas, até ao momento, não há nada em concreto.   

Que outro contributo, além de gerar turismo, dá o golfe ao país?
O golfe, aliado ao turismo, pode contribuir para a diversificação da economia, ao dinamizar a indústria do turismo e através da criação de novos postos de trabalho. Para tal, temos de ser capazes de atrair as principais redes de hotelaria e investidores do setor.

Elevar o golfe angolano está a ser o seu maior desafio. Desde que assumiu o cargo, o que já mudou?
Quando aceitei o desafio, a Federação ainda não tinha o reconhecimento do ministério de tutela, por não preencher os requisitos legais. Hoje, podemos dizer que temos uma Federação reconhecida nacional e internacionalmente pelos principais órgãos reguladores da modalidade. Somos membros da R&A, membros da Confederação Africana de Golfe e do Comité Olímpico Angolano. Somos uma autoridade de handicap devidamente reconhecida, pela autoridade mundial de handicaps, o que permite aos jogadores federados jogarem em competições internacionais, ou em campos que exijam esta certificação. Realizámos o primeiro campeonato nacional, realizámos o Campeonato Africano da Região 5, com sucesso, conforme consta do relatório da Confederação Africana e da R&A, e criámos o programa «Escolas Nacionais de Golfe», que hoje conta com mais de 80 crianças. Mas temos noção da enorme estrada que a Federação tem de percorrer, enquanto reguladora da modalidade, principalmente na criação de infraestruturas e formação dos agentes da modalidade.

«As escolas podem ser o maior catalisador da iniciação do golfe»
Em que patamar se encontra a modalidade do golfe no país?
Apesar de ser uma modalidade recente, no contexto nacional, temos um torneio empresarial que completa, este ano, 11 anos consecutivos de provas realizadas, temos um campo que realiza cerca de dez competições anuais e, recentemente, abriu o primeiro Driving Range, em Luanda, na Via Expresso, ao lado do estádio 11 de Novembro, onde é possível iniciar a prática da modalidade e aperfeiçoar o jogo. Porém, quando comparamos com os países da região, percebemos que temos um longo caminho a percorrer no que diz respeito às infraestruturas. Somente com o surgimento de novas estruturas é que o golfe poderá atingir o patamar desejado por todos.  

Quantos golfistas estão inscritos na Federação Angolana de Golfe?
Atualmente, conta com 302 federados. Mas sabemos que existe uma população superior a esta, que pratica golfe mas não está inscrita na Federação. Calcula-se que devam existir cerca de 400 jogadores de golfe residentes. Um número considerável de pessoas contacta a Federação, por via das redes sociais, com o intuito de começar ou mesmo de dar continuidade à prática da modalidade. Porém, a ausência de campos de treino perto dos principais centros urbanos representa um constrangimento ao crescimento da modalidade. 

Gostava de ver Angola a receber opens mundiais?
Sim, claro, porém gostaria de ver o Angolan Open tornar-se uma referência mundial. Deve acontecer quando tivermos mais campos de golfe com condições para receber estas competições. 

Como gostaria de ver esta modalidade daqui a dez anos, por exemplo?
No horizonte de dez anos, gostaria que tivéssemos pelo menos mais quatro campos, nas principais províncias, e uma população praticante 15 vezes superior à atual. 

Prefere um bom swing ou um bom putt?
Prefiro fazer os 18 buracos abaixo do handicap, porque há dias em que o bom swing faz a diferença, mas há outros em que o putt é a estrela do jogo. 

Praticar sozinho ou acompanhado?
Acompanhado e, de preferência, dos incontornáveis companheiros que o golfe proporciona. 

Alguma boa memória que o golfe lhe tenha proporcionado?
Várias, mas, sem dúvida, termos realizado o Campeonato da Região 5 durante o COVID. Foi algo memorável e importante, assim como termo-nos tornado membros da R&A.
Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. Edson Azevedo