Villas&Golfe Angola
· Setor da Restauração 
· · T. Joana Rebelo · F. Délcio Teixeira

Café Del Mar

Um refúgio agridoce

PMMEDIA Pub.
Com um pé na areia e outro no Café Del Mar, entramos num dos recantos mais cobiçados da Ilha de Luanda. Contam-se 21 anos desde a criação do local que aconchega a alma e alegra as vistas, plantado bem à beira-mar.
A história começa com um projeto de gestão de um clube francês, numa altura em que a ânsia já era maior. «O meu marido sempre quis ter um restaurante à beira-mar», explica Dinita Crespo, a proprietária do Café Del Mar. E pouco tempo demorou até surgir a oportunidade de materializar o sonho, que ganhou forma e tamanho com o Coconuts, o primogénito do grupo. Mas «quando o meu marido se apercebeu do que é gerir realmente um restaurante, preferiu que fosse eu a tomar o lugar. Sou uma pessoa perfecionista e exigente. Já que tinha de o fazer, fi-lo da melhor forma possível», esclarece a diretora do espaço. E assim foi. A vida tratou de ziguezaguear o rumo de Dinita, até então veterinária, e a partir dali estava frente a frente com um novo desafio: praia, caipirinhas e recursos humanos. 
Por necessidade e circunstância, nasceu o Del Mar em 2002, junto da sua unidade irmã, o Coconuts. De dimensões reduzidas e funções apenas ao nível de snack-bar, o estabelecimento manteve-se na sombra, tímido, até certo dia. A data de 30 de maio ficou marcada pelo que o mar levou. Já pouco ou nada tinha restado da calema que se apoderou do espaço e, no final de contas, o Café Del Mar já não existia. Por coincidência ou não, estava a ser desenhado, pela mesma altura, um projeto que visava restaurar todo o espaço, pelo que o mar acabou por acelerar o projeto. «Há males que vêm por bem», revela Dinita. Foi uma questão de meses até a obra estar finalizada e, num abrir e fechar de olhos, o Del Mar ganhou outro brilho. Outras cores. Outra forma. «Sempre quis fugir ao estilo europeu, que é muito clean. Aqui, não se adaptaria à realidade africana. O novo projeto surgiu com a ambição de um espaço que se aproxima de África, com materiais da terra», explica a proprietária. E assim concretizou o atelier da Renata Machado, que mergulhou nas raízes africanas para criar um espaço com alma, cor e elegância. Desde então, o Café Del Mar é conhecido pela simbiose de atmosfera, comida e decoração – um local de refúgio, que faz esquecer a vida frenética vivida a poucos quilómetros de distância da ilha. Uma delícia aos olhos de quem o vê, onde novos clientes passam a atuais e um lugar que os de longa data recomendam aos que desconhecem. Com um atendimento calmo e bem enquadrado, a equipa da casa reúne, hoje, 180 membros locais, que trabalham em conjunto para elevar, de ano para ano, a fasquia do negócio.
Diferenciador, o estabelecimento apresenta um cardápio fiel aos sabores da comida internacional. A aposta recai numa carta à base de grelhados e, para abrir o apetite, recomendam-se as saborosas gambas ao alho. Os cocktails são famosos, cá por estas zonas, e certamente não será de perder as caipirinhas refrescantes ou a sangria de frutos vermelhos, acompanhadas por uma paisagem que mais parece pintada a aguarela. Para adoçar o coração, a oferta passa pelo petit gâteau, cujos sabores, em fusão com o gelado, o transportam para outra dimensão. «É um serviço muito prático, também para que possa ser rápido e eficiente. Não temos uma carta muito elaborada, mas funciona», afirma a gerente. Fruto do que a terra que lhe dá, o Café Del Mar é o resultado de um investimento no local e tempo certos, mas nem sempre foi fácil. Com o aparecimento da COVID-19, novos desafios se impuseram, e Dinita conta as dificuldades: «Não é fácil aguentar uma equipa e uma casa apenas com take-away. Os custos são muito altos, sem falar nos custos de manutenção de equipamentos, pelo facto de estarmos à beira do mar. Requer manutenção regular. O mar é bonito, mas desgasta o equipamento». Os mais antigos da equipa permaneceram, mas alguns tiveram de ser dispensados, ainda que, felizmente, lhes fossem abertas novamente as portas para, mais tarde, regressar. «Foi um jogo de cintura como nunca tinha feito. Para nos aguentarmos, tivemos mesmo de ceder em algumas situações», admite.
Atualmente, o bar emana energia revitalizante, a par com os rostos sorridentes e os aromas africanos. Mais sólido e maduro, o Café Del Mar é uma referência nacional, graças ao quadro magnífico que pinta na tela do dia a dia. Tal como afirma Dinita Crespo, «estamos a viver uma época cheia de pontos de interrogação», em que guerras e pandemias tiram liberdades que, até então, estavam consumadas. Por isso, brindemos ao mar, à comida e à liberdade de nos sentirmos livres. Salut!
T. Joana Rebelo
F. Délcio Teixeira