Rafaela Pinto

Aos 27 anos vive, talvez, e cá para nós, uma das maiores aventuras da sua vida, em terras angolanas. Rafaela Pinto é uma jovem, mas tem uma coragem e uma força inacreditáveis, que se notam logo mal a conhecemos. Chegou a Angola há três anos. Numa altura em que o país atravessava uma crise, principalmente no setor da construção – área de negócio que a empresa familiar, a MSTR, atua. Em 2021, após uma visita ao shopping Fortaleza, em Luanda, decidiu levar de Portugal os sabores da sua terra e os vinhos – outra área de negócio familiar –, e aventurou-se ao abrir um espaço gourmet, onde se encontram os produtos da Quinta da Terrincha, pertencente à família. Um desafio, bem-sucedido. A ideia da loja foi sua, não teve medo. Confessou-nos que, de certa forma, se sentiu «protegida por ter o da família». Mas, ainda assim, é preciso ter coragem, para arriscar numa altura de pandemia. Diz nunca se «sentir sozinha», pois é «o grande segredo da família», todos podem contar uns com os outros. É a neta mais velha da casa. E é motivo de orgulho.

Como é que uma jovem como a Rafaela vai para Angola?
Faço parte da família Seixas Pinto. Sou a terceira geração. Quando vim para Angola, este grupo empresarial já existia, do tempo do meu pai, dos irmãos dele e dos meus avós. A minha família está aqui desde 2006. Abrimos uma empresa de construção civil em 2008. Após ter terminado o curso de Direito decidi dar continuidade a este barco, que é a família, e dedicar-me aos projetos. Deixei a minha vida jurídica de parte. Vim sem pensar muito naquilo em que se tornaria a minha vida.

Como é que tem sido este desafio?
Quando cheguei o país estava numa crise, principalmente no que toca ao setor da construção civil. Não tínhamos projetos. Felizmente, esta é uma empresa estável, bem constituída, e com pilares muito fortes, e por acreditarmos sempre que Angola tem um futuro, não desistimos do país. Claro que isto já vem de quem começou este projeto. Acreditamos que as coisas, mais tarde ou mais cedo, iam mudar. Estou aqui há três anos. É uma realidade completamente diferente da que era há 10 anos. Aquilo que eu vejo de Angola é uma evolução. Tivemos a pandemia, mas as portas começaram-se a abrir, principalmente este ano.

«Aquilo que eu vejo de Angola é uma evolução»

E foi precisamente na pandemia que abriram a loja gourmet?
Sabíamos que o mundo não ia parar para sempre devido a uma pandemia, ou seja, tal como numa crise, as coisas voltam à normalidade. A minha família já tinha o negócio ligado à viticultura há alguns anos, que surgiu em Portugal, com a Quinta da Terrincha, e com a minha vinda para Angola (até então só tinham vindo homens da família para cá, fui a única mulher a vir) claro que trouxe este lado mais intimista e requintado da família. A empresa MSTR está sediada no Bié, eu fiquei em Luanda como responsável administrativa da empresa. O shopping da Fortaleza abriu em dezembro de 2020, em plena pandemia, visitei o espaço e percebi que tinha potencial para marcar a diferença com a loja gourmet. Na altura, questionaram-me porquê abrir num shopping sem lojas, numa altura de pandemia, num país em crise. Nós acreditamos que aqui tínhamos a possibilidade de vencer. Sempre soube que trazia uma coisa diferente, que ia apresentar o vinho de uma forma diferente. Queremos mostrar diretamente às pessoas quem somos, o vinho não é só para se beber, o vinho tem uma história por detrás. Daí que o primeiro passo foi abrir uma loja. Este ano vamos dar mais um passo. Temos cinco gamas de vinho, o mais recente, o Terrincha, depois temos o Quinta da Terrincha, que é uma gama acima, temos os dois Reservas, isto sempre no que toca a branco e tinto, e lançamos, o ano passado, um Grande Reserva. Estamos direcionados para um target alto e, por isso, este ano, como queremos chegar a outras pessoas, vamos lançar em setembro uma gama de vinho mais baixa, que se vai chamar Pêra Amarela, para também conseguirmos estar presentes em supermercados.

O que podemos encontrar na loja gourmet?
A loja é muito direcionada para os produtos da Quinta da Terrincha, principalmente o vinho, que é o nosso produto principal. Para além disso, temos o azeite, as compotas, feitas com a nossa fruta e o queijo de ovelha e de cabra. Depois, por ser uma loja nova, e por ser indispensável criar a necessidade de o cliente nos procurar, trouxemos a Castelbel, uma marca de aromas portuguesa, a Nespresso, por ser um produto muito procurado, e nem sempre existir nas grandes superfícies. O conceito da loja foi trazer os nossos produtos, mas montar uma loja gourmet. Algo com qualidade. Temos também amêndoas, de Torre de Moncorvo. E temos também duas parcerias com a Iva Viana (faz flores em gesso) e a Sofia Sustelo (faz cerâmicas com toques em ouro), são peças produzidas à mão.

«Sempre soube que trazia uma coisa diferente, que ia apresentar o vinho de uma forma diferente»

Esta loja nasceu na pandemia. Como tem sido a sua evolução, valeu a aposta neste conceito?
A loja nasceu a 15 de agosto de 2021, em plena pandemia. Não me arrependo de nada daquilo que fiz. A loja tem sido muito bem recebida pelo público angolano. Claro que a altura do Natal foi a melhor que tivemos, era novidade, criamos cabazes para essa época. Este meio ano tem sido bom, a loja tem vindo a ser falada, o vinho é falado pela qualidade que tem. Já temos clientes que procuram nela os seus vinhos preferidos, clientes fidelizados. 

E quanto às perspetivas?
Neste momento, a construtora está em crescimento. Queremos expandir o negócio, provavelmente abrir uma nova loja, não em Luanda, mas em Talatona. E com a nova referência do vinho chegar às grandes superfícies.