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Niels Eggerding

«O público jovem (...) representa o futuro nicho do luxo»

PMMEDIA Pub.
Há 35 anos a Frederique Constant dava os primeiros passos numa indústria onde maisons reúnem heranças de séculos. O conceito por detrás do projeto é hoje tão ou mais audacioso do que nunca, pelo que criar luxo a preços acessíveis é uma equação a que a marca suíça consegue dar resposta. É em Genebra que se encontra a casa-mãe da Frederique Constant, um laboratório onde relojoeiros, designers e artesãos se unem para a criação de relógios dinâmicos. No centro da ação encontra-se Niels Eggerding, o CEO que se deu a conhecer à V&G num evento de celebração da marca, em Portugal. De vez em quando está aqui e em todo o lado. O telemóvel lembra-o dos afazeres de diretor executivo e da constante necessidade de estar ligado ao mundo. O dom da palavra é-lhe inerente e o espírito alegre cativa. Afirma não ter curiosidade em conduzir um Ferrari, por ser demasiado luxuoso, e conta conhecer o fado português, que tantas vezes serviu de música de fundo entre conversas com o seu pai. Emotivo, o holandês de coração puritano fala de si e da sua ambição: a Frederique Constant.  

O gosto pela relojoaria surge na infância ou desenvolve-se posteriormente?
Desenvolve-se mais tarde. Quando tinha 20 anos fiz o meu primeiro estágio num distribuidor de relógios, na Holanda. Vendiam-se marcas como Zenith, Camel Trophy e Frederique Constant. Portanto, foi há 25 anos que me comecei a apaixonar pela relojoaria e pelo trabalho manual. 

A imagem que tinha da Frederique Constant manteve-se depois de ser nomeado CEO?
Não. Quando assumi o controlo da marca, os fundadores aconselharam-me a torná-la mais jovem, e foi isso que eu fiz. Eu ambicionava um design mais moderno, o que acabou por se concretizar com a coleção de 2019. 

Há precisamente 35 anos começava a história da marca suíça. Como resumiria o seu percurso até agora?
Estou com a Frederique Constant há 12 anos e, a partir da minha experiência, posso afirmar que o percurso tem sido fruto de um trabalho laborioso. A marca era mais pequena, não é como hoje, que ganha muita quota de mercado. Este crescimento foi potencializado pela equipa, que trabalha diariamente para gerar a evolução da marca.  

Foi um desafio entrar no mercado relojoeiro, numa altura em que as grandes maisons estavam já consolidadas?
Sim. Sempre foi (e continua a ser) um desafio. As grandes marcas ditam o retalho e é por isso que, quando se vai a uma loja, se vê Cartier, Rolex e Tag Heuer. É difícil entrar no mercado relojoeiro, pelo que é necessário ser-se muito pessoal e próximo do retalhista, de forma a conquistar a sua confiança. Ser única e criativa, tanto no design, como nos preços, é o que faz da Frederique Constant uma marca singular. 

Qual a origem do nome Frederique Constant?
A origem do nome provém dos bisavós dos fundadores. Um chamava-se Frédérique Schreiner e o outro Constant Stas, pelo que os dois nomes foram emparelhados e fundiram-se num só: Frederique Constant, uma junção chique e elegante.  

Os princípios convencionais do luxo desdobram-se em exclusividade e preços elevados, mas a marca suíça parece pensar diferente. O que engloba o conceito de luxo sob a perspetiva da grife?
Se não incluirmos a questão do preço, para mim, luxo é alta qualidade, que provoca uma sensação ímpar quando lhe damos uso. Por isso, é um despertar de sentimento, uma afirmação. É algo que a Frederique Constant procura fazer, a partir da criação de modelos sofisticados. Vejamos: quando se experimenta um relógio da marca, consegue-se sentir o luxo no pulso. Para isso acontecer, precisa de parecer luxuoso e de proporcionar felicidade a quem o coloca. Necessita de uma qualidade exímia, bem como de um design capaz de proporcionar sensações elevadas. A isso soma-se o preço acessível, fator que impulsiona o consumidor no momento da compra.  

Com o mundo em evolução, as marcas veem-se obrigadas a constantes atualizações. Que novidades trouxe para a Frederique Constant desde que ocupa o cargo de chefia?
Optei por adotar uma estratégia mais atrativa para o público jovem, já que esta é a faixa etária que representa o futuro nicho do luxo. Então, o plano baseia-se em relógios com um design mais fresco e contemporâneo, a par com uma comunicação mais juvenil por parte da equipa, de forma a que este público-alvo se sinta familiarizado com a marca. Por isso, é preciso estar regularmente presente no mundo digital, embora aprofundar uma experiência em loja, onde possam ser reconhecidos os artigos, também seja o objetivo.  

Quais são as etapas por que passa a conceção de um relógio da marca, até chegar ao consumidor final?
Primeiro, dá-se o esboço do relógio, que leva cerca de dois anos. Quando o design começa a ser concebido, chegam-nos as respetivas amostras. Depois de validadas, é necessário encomendar materiais e planear a produção, trabalho que requer nove meses. Já finalizado este processo, prepara-se o modelo para ser enviado para um retalhista. Portanto, há todo um processo minucioso por detrás de tudo isto. 

«Chegámos a produzir 160.000 peças por ano»
Optam pela utilização de materiais sustentáveis?
Sim. Ainda assim, creio que seja mais importante estruturar a organização de forma mais sólida do que garantir sustentabilidade apenas no produto final. Por isso, a equipa tem trabalhado numa agenda sustentável forte, embora não possa revelar, para já, pormenores. Eu não quero fazer nenhum greenwashing, nem um strapline reciclado. Em breve, explicaremos. É um processo demorado, até porque não basta fazer um slogan sustentável para pôr em prática a sustentabilidade... Parece-me muito superficial. 

Quantas peças têm produzido por mês?
Bem, não consigo ser preciso relativamente à produção atual, visto que estamos cotados em bolsa, mas chegamos a produzir 160.000 peças por ano.  

A maioria das vendas são efetuadas via online?
Não. O mercado online, para a marca, é muito pequeno. A Frederique Constant apoia o retalho. Existem cerca de 2500 retalhistas no mundo, pelo que vender online significaria perturbar o setor. Fizemos a nossa opção e, hoje, o online é importante para educar e direcionar o tráfego para a loja. A loja física continua a ser muito importante. 

Atualmente, são muitos os meios que nos permitem consultar as horas. Porquê comprar um relógio?
Em primeiro lugar, porque é sempre bom ter algo a adornar o pulso. Depois, já que o relógio ali está, vamos utilizá-lo para ler as horas. E, também, porque quando compramos um relógio, ele transmitirá algo sobre nós. Uns, indicam pessoas fortes e determinadas. Outros, funcionam como uma afirmação. Se indica as horas? Sim, mas também é bonito, como um casaco dispendioso da Louis Vuitton.  

Qual a sua opinião relativamente ao produto-tendência: o smartwatch?
A questão dos smartwatches é muito complicada. A Apple está a liderar o mercado e é, de longe, a maior marca de relógios do mundo. Por isso, empresas como a nossa não podem competir com a Apple, devido ao poder que esta reúne.  

E gostas de smartwatches?
Não, não gosto. As pessoas já estão sentadas o dia todo ao telemóvel e o conceito dos smartwatches é o mesmo. Por isso, creio que é um produto que não tem valor. A Frederique Constant tem smartwatches, mas não é neles que vê o futuro.

Portugal está entre os países estratégicos da Frederique Constant?
Mentiria se dissesse que sim. Portugal é um mercado pequeno, mas importante. Os países estratégicos são a Índia, os EUA, a China, a Coreia do Sul e o Japão. Todos eles mercados de referência, capazes de decidir a evolução de uma marca. Portugal, Holanda e Espanha vêm a seguir. Mas Portugal tem profissionais altamente qualificados no setor relojoeiro.

Gosta de Portugal?
Gosto imenso. A comida é fantástica, as pessoas são espetaculares e o vinho é bom. Tudo é bom. Em Portugal há qualidade de vida.

«Portugal tem profissionais altamente qualificados no setor relojoeiro»
De que forma estão a celebrar o 35.º aniversário da marca?
Com uma grande festa. Começámos por celebrar o 35.º aniversário da marca em Genebra, com a presença do DJ The Avener. Além disso, temos lançado todos os trimestres uma peça de celebração. No primeiro trimestre, divulgámos o modelo Gold World Timer. Já no segundo, foi o Tourbillon em platina, com o mostrador Meteori. E, no terceiro trimestre, apresentámos o Big Date, também em platina e com o mostrador Meteori. A última divulgação será feita no Dubai, com o Calendário Perpétuo Tourbillon.  

Que colaborações podemos esperar no futuro e o quepoderá ser visto na próxima década nas boutiques Frederique Constant?
As colaborações são importantes. Fizemo-las com Christiaan van der Klaauw, dando origem ao Planetarium Tourbillon. Uma peça única, a primeira a existir na indústria suíça. Fizemos colaborações com plataformas mediáticas como a Revolution, mas também esperamos continuar a trabalhar com alguns artistas.  

Relógio clássico ou desportivo?
Clássico.

Descreva o seu relógio de sonho. Um Chrono Tourbillon Big Date.

Quais são os seus passatempos?
Gosto de nadar e de desportos aquáticos. Adoro praticar snowboard e conduzir carros de alta cilindrada, aliás, a Porsche é uma das minhas marcas preferidas.

Algo que ninguém sabe sobre si?
Sou um livro aberto! Mas... todas as manhãs, às seis horas, acordo, faço algum desporto e depois mergulho num lago de água fria. A minha música é a minha meditação, por isso, quando estou no carro, é o que eu faço para me equilibrar.

O filme preferido?
Big Fish.

A música favorita?
Headlights, de Charlie Cunningham.
T. Joana Rebelo
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