Em criança, nas suas brincadeiras, as preferências recaíam sobre os kits de saúde e, poucos anos mais tarde, revelou o seu segredo ao presidente Agostinho Neto: queria ser médica, tal como ele. 15 anos se passaram e, hoje, Ana Ruth não só é médica, como investigadora. Salvar vidas é o seu dia a dia, numa correria entre o laboratório e o bloco operatório e intercalando os seus pacientes com a continuidade da criação da vacina da malária. Junte-se à conversa com Ana Ruth, uma mulher da Ciência.
Quem é a Ana Ruth?
É uma mulher inserida numa família tradicional, educada com princípios rígidos de disciplina, rigor, respeito pelo próximo e uma visão de que, com conhecimento e trabalho, se conquistam os objetivos traçados, prevalecendo sempre a união e o amor. Estes legados deixados pelos meus pais servem de guia e como chave para várias conquistas no seio familiar. Sou casada e mãe de três filhos que, de certa forma, vieram dar mais vida, amor e, sobretudo, mais responsabilidade à minha vida, moldando a mulher madura que hoje sou.
Quais são as suas maiores paixões?
A minha família. Perco-me com a exuberância da natureza, tenho fotografias do pôr do sol sem conta. Adoro plantas e flores. Gosto de viajar e conhecer lugares com outras culturas. Aprecio música, pintura e um bom livro. Também gosto de cozinhar.
Lembra-se de algum pormenor da sua infância/adolescência que lhe desse indícios da carreira profissional que iria seguir?
Em criança, nas brincadeiras com bonecas, sempre tive a preferência por kits ligados à saúde, com seringas, etc... Mas o acontecimento que mais me inspirou foi por volta dos 7 anos, quando tive uma conversa com o Presidente Agostinho Neto e ele me perguntou o que eu desejava ser quando crescesse. Eu respondi-lhe que queria ser médica e ele disse-me: «Irás estudar muito e serás médica como eu». Levei a conversa com seriedade e, após 15 anos, tornei-me médica.
«Existe muita fraqueza nos sistemas de saúde de vários países»
Como tem sido o seu percurso profissional?
Licenciei-me em Medicina, aos 22 anos, em Angola. Fiz carreira na área de cirurgia, durante 16 anos: cinco anos em Luanda, quatro na África do Sul e dois no Brasil. Regressei, depois, a Angola, onde trabalhei em vários hospitais e clínicas privadas. Em 2008, assumi um novo desafio, que foi passar da área clínica à gestão hospitalar, assumindo a função de Diretora Regional dos Serviços de Saúde da Chevron para a África Subsariana, o que abrangia Angola, RDC, República do Congo e África do Sul. Fui também membro do concelho de direção da empresa. Um trabalho desafiante. Dada a natureza do trabalho, em 2015, decidi fazer uma especialização em Medicina do Trabalho, pela Universidade Nova de Lisboa, o que me levou a implementar melhor os conceitos de Medicina no Trabalho e a gerir as duas vertentes. Após oito anos, passei a assumir a função de Diretora Regional de Saúde Pública e a envolver-me em projetos especiais da Chevron para África, Europa e Eurásia, tendo também uma componente comunitária no contexto dos investimentos sociais. Paralelamente, em representação do setor privado em Angola, sou membro do Mecanismo de Coordenação Nacional para o Fundo Global, onde fui tendo cargos de crescente responsabilidade, assumindo há três anos a Presidência do Mecanismo de Coordenação Nacional de Angola, para o apoio aos programas nacionais da malária, HIV, tuberculose e reforço do sistema de saúde.
Está na vanguarda de estudos revolucionários, um deles relativo à malária. Qual é o sentimento de poder estar perto da descoberta da cura para uma doença tão presente na vida das pessoas?
A malária é uma doença que tem cura, quando diagnosticada e tratada precoce e adequadamente. Infelizmente, ainda existe muita fraqueza nos sistemas de saúde de vários países, aliada à falta de saneamento básico, a uma resposta inadequada ao atendimento hospitalar e a outros problemas sociais, que fazem com que a malária se perpetue e continue a ceifar vidas. A malária previne-se se invertermos os fatores acima citados. A investigação está a evoluir e a vacina esperada é, agora, uma realidade. A RTS,S/AS01 (RTS,S) é uma vacina que atua contra o Plasmodium falciparum, o parasita da malária mais mortal a nível global e o mais predominante em África. Segundo a OMS, a vacina reduz significativamente a malária, assim como a sua severidade em crianças. Se implementada de forma geral, a vacina da malária pode salvar dezenas de milhares de vidas por ano. A recomendação da OMS baseia-se nos resultados de um programa-piloto de vacinação, em curso no Gana, Quénia e Maláui, que já atingiu mais de um milhão de crianças desde 2019.
Salvar vidas é um dever da sua atividade profissional. Qual foi a experiência mais marcante que a carreira lhe proporcionou?
Muitas experiências marcantes. Cada momento é único. Salvar uma vida, quando o prognóstico é reservado e há uma grande probabilidade de óbito, é uma das experiências mais intensas e, ao mesmo tempo, motivadoras. Sair de uma cirurgia complicada de sucesso e ver o sorriso do paciente recuperado é uma sensação de vitória. Já a perda de um doente é extremamente marcante, principalmente, quando se tem o saber, mas não existem ferramentas para executar da melhor forma.
«A mulher angolana sempre teve um papel ativo na nossa sociedade»
A Mulher angolana tem um papel ativo na área?
A Mulher angolana sempre teve um papel ativo na nossa sociedade, papel esse que foi variando de acordo com as fases em que o país se encontrava, passando pelo período pré-independência e pós-independência, em que, com a ida do marido para a guerra, assumia o papel principal nos seus lares e na formação académica. Esta evolução foi progressiva e de forma ascendente. A mulher foi tendo um papel mais ativo na política, no empresariado e nas demais áreas, assumindo funções de liderança. Hoje, temos uma paridade numérica, uma Vice-Presidente da República, Presidente do Parlamento Nacional, Ministras de Estado, mulheres com cargos de CEO nas empresas, etc.
Como é um dia na vida da Ana Ruth?
É um dia bem preenchido, que começa cedo pela manhã, com os preparativos da família para a ida para a ginástica, trabalho, colégio e atividades laborais, acabando por ocupar a maior parte do meu dia com uma rotina muito ativa. Tenho o mau hábito de estender o trabalho para além da hora, muitas vezes não mantendo o work live balance, tão necessário para a saúde no trabalho. Ao longo do dia, telefono para os meus filhos e para o meu esposo para saber se está tudo bem, o que, de certa forma, me renova a energia. Já no regresso a casa, inicia-se o controlo do lar, dando atenção às tarefas académicas dos meus filhos. O jantar é sagrado, pois estamos todos juntos e é o momento em que nos fortalecemos, organizamos e energizamos para o dia seguinte. Posteriormente, tenho o meu momento de informação, em que passo uma vista de olhos pelas notícias e dou atenção às minhas redes sociais, para tentar balançar a carga laboral.
Celebramos o 13.º aniversário da Villas&Golfe, em Angola. O que representaram, para si, estes últimos anos na sua vida e no país?
Os últimos 13 anos foram de consolidação familiar, após a perda dos meus pais, a busca da força e manutenção do legado deixado por eles e a transmissão às gerações vindouras. Garanti a educação moral e académica dos meus filhos e sobrinhos. Foram anos de crescimento profissional e de novas apostas, das quais temos estado a colher os frutos. Relativamente ao país, houve várias transformações políticas, económicas e sociais. Tivemos o crescimento de algumas áreas, registando-se melhorias nos índices de desenvolvimento económico, mas também houve alguns recuos, principalmente devido às crises dos últimos anos no setor petrolífero, assim como a corrupção e o impacto da COVID-19. Há, por isso, o compromisso de melhorar, principalmente, as condições sociais na educação e na saúde, alavancar a economia com o uso racional das nossas riquezas e construir um país próspero, na dimensão das suas potencialidades.
Quem é a Ana Ruth?
É uma mulher inserida numa família tradicional, educada com princípios rígidos de disciplina, rigor, respeito pelo próximo e uma visão de que, com conhecimento e trabalho, se conquistam os objetivos traçados, prevalecendo sempre a união e o amor. Estes legados deixados pelos meus pais servem de guia e como chave para várias conquistas no seio familiar. Sou casada e mãe de três filhos que, de certa forma, vieram dar mais vida, amor e, sobretudo, mais responsabilidade à minha vida, moldando a mulher madura que hoje sou.
Quais são as suas maiores paixões?
A minha família. Perco-me com a exuberância da natureza, tenho fotografias do pôr do sol sem conta. Adoro plantas e flores. Gosto de viajar e conhecer lugares com outras culturas. Aprecio música, pintura e um bom livro. Também gosto de cozinhar.
Lembra-se de algum pormenor da sua infância/adolescência que lhe desse indícios da carreira profissional que iria seguir?
Em criança, nas brincadeiras com bonecas, sempre tive a preferência por kits ligados à saúde, com seringas, etc... Mas o acontecimento que mais me inspirou foi por volta dos 7 anos, quando tive uma conversa com o Presidente Agostinho Neto e ele me perguntou o que eu desejava ser quando crescesse. Eu respondi-lhe que queria ser médica e ele disse-me: «Irás estudar muito e serás médica como eu». Levei a conversa com seriedade e, após 15 anos, tornei-me médica.
«Existe muita fraqueza nos sistemas de saúde de vários países»
Como tem sido o seu percurso profissional?
Licenciei-me em Medicina, aos 22 anos, em Angola. Fiz carreira na área de cirurgia, durante 16 anos: cinco anos em Luanda, quatro na África do Sul e dois no Brasil. Regressei, depois, a Angola, onde trabalhei em vários hospitais e clínicas privadas. Em 2008, assumi um novo desafio, que foi passar da área clínica à gestão hospitalar, assumindo a função de Diretora Regional dos Serviços de Saúde da Chevron para a África Subsariana, o que abrangia Angola, RDC, República do Congo e África do Sul. Fui também membro do concelho de direção da empresa. Um trabalho desafiante. Dada a natureza do trabalho, em 2015, decidi fazer uma especialização em Medicina do Trabalho, pela Universidade Nova de Lisboa, o que me levou a implementar melhor os conceitos de Medicina no Trabalho e a gerir as duas vertentes. Após oito anos, passei a assumir a função de Diretora Regional de Saúde Pública e a envolver-me em projetos especiais da Chevron para África, Europa e Eurásia, tendo também uma componente comunitária no contexto dos investimentos sociais. Paralelamente, em representação do setor privado em Angola, sou membro do Mecanismo de Coordenação Nacional para o Fundo Global, onde fui tendo cargos de crescente responsabilidade, assumindo há três anos a Presidência do Mecanismo de Coordenação Nacional de Angola, para o apoio aos programas nacionais da malária, HIV, tuberculose e reforço do sistema de saúde.
Está na vanguarda de estudos revolucionários, um deles relativo à malária. Qual é o sentimento de poder estar perto da descoberta da cura para uma doença tão presente na vida das pessoas?
A malária é uma doença que tem cura, quando diagnosticada e tratada precoce e adequadamente. Infelizmente, ainda existe muita fraqueza nos sistemas de saúde de vários países, aliada à falta de saneamento básico, a uma resposta inadequada ao atendimento hospitalar e a outros problemas sociais, que fazem com que a malária se perpetue e continue a ceifar vidas. A malária previne-se se invertermos os fatores acima citados. A investigação está a evoluir e a vacina esperada é, agora, uma realidade. A RTS,S/AS01 (RTS,S) é uma vacina que atua contra o Plasmodium falciparum, o parasita da malária mais mortal a nível global e o mais predominante em África. Segundo a OMS, a vacina reduz significativamente a malária, assim como a sua severidade em crianças. Se implementada de forma geral, a vacina da malária pode salvar dezenas de milhares de vidas por ano. A recomendação da OMS baseia-se nos resultados de um programa-piloto de vacinação, em curso no Gana, Quénia e Maláui, que já atingiu mais de um milhão de crianças desde 2019.
Salvar vidas é um dever da sua atividade profissional. Qual foi a experiência mais marcante que a carreira lhe proporcionou?
Muitas experiências marcantes. Cada momento é único. Salvar uma vida, quando o prognóstico é reservado e há uma grande probabilidade de óbito, é uma das experiências mais intensas e, ao mesmo tempo, motivadoras. Sair de uma cirurgia complicada de sucesso e ver o sorriso do paciente recuperado é uma sensação de vitória. Já a perda de um doente é extremamente marcante, principalmente, quando se tem o saber, mas não existem ferramentas para executar da melhor forma.
«A mulher angolana sempre teve um papel ativo na nossa sociedade»
A Mulher angolana tem um papel ativo na área?
A Mulher angolana sempre teve um papel ativo na nossa sociedade, papel esse que foi variando de acordo com as fases em que o país se encontrava, passando pelo período pré-independência e pós-independência, em que, com a ida do marido para a guerra, assumia o papel principal nos seus lares e na formação académica. Esta evolução foi progressiva e de forma ascendente. A mulher foi tendo um papel mais ativo na política, no empresariado e nas demais áreas, assumindo funções de liderança. Hoje, temos uma paridade numérica, uma Vice-Presidente da República, Presidente do Parlamento Nacional, Ministras de Estado, mulheres com cargos de CEO nas empresas, etc.
Como é um dia na vida da Ana Ruth?
É um dia bem preenchido, que começa cedo pela manhã, com os preparativos da família para a ida para a ginástica, trabalho, colégio e atividades laborais, acabando por ocupar a maior parte do meu dia com uma rotina muito ativa. Tenho o mau hábito de estender o trabalho para além da hora, muitas vezes não mantendo o work live balance, tão necessário para a saúde no trabalho. Ao longo do dia, telefono para os meus filhos e para o meu esposo para saber se está tudo bem, o que, de certa forma, me renova a energia. Já no regresso a casa, inicia-se o controlo do lar, dando atenção às tarefas académicas dos meus filhos. O jantar é sagrado, pois estamos todos juntos e é o momento em que nos fortalecemos, organizamos e energizamos para o dia seguinte. Posteriormente, tenho o meu momento de informação, em que passo uma vista de olhos pelas notícias e dou atenção às minhas redes sociais, para tentar balançar a carga laboral.
Celebramos o 13.º aniversário da Villas&Golfe, em Angola. O que representaram, para si, estes últimos anos na sua vida e no país?
Os últimos 13 anos foram de consolidação familiar, após a perda dos meus pais, a busca da força e manutenção do legado deixado por eles e a transmissão às gerações vindouras. Garanti a educação moral e académica dos meus filhos e sobrinhos. Foram anos de crescimento profissional e de novas apostas, das quais temos estado a colher os frutos. Relativamente ao país, houve várias transformações políticas, económicas e sociais. Tivemos o crescimento de algumas áreas, registando-se melhorias nos índices de desenvolvimento económico, mas também houve alguns recuos, principalmente devido às crises dos últimos anos no setor petrolífero, assim como a corrupção e o impacto da COVID-19. Há, por isso, o compromisso de melhorar, principalmente, as condições sociais na educação e na saúde, alavancar a economia com o uso racional das nossas riquezas e construir um país próspero, na dimensão das suas potencialidades.