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· Indústria Metalúrgica · · T. Cristina Freire

Aceria De Angola

A força do aço

PMMEDIA Pub.
F. Daniel Camacho

Nascido no Senegal, de ascendência libanesa, o também cidadão francês, Georges Choucair, idealizou Angola autossuficiente na produção de aço. Para isso, fundou a Aceria de Angola (ADA), que entrou em funcionamento em 2015 e cujo principal produto são varões de aço destinados à construção civil. Com a matéria-prima oriunda da sucata e um investimento inicial de 260 milhões de dólares, o Presidente do Conselho de Administração da empresa conseguiu o objetivo e já exporta os produtos excedentes. Antes deste acontecimento, formou outras empresas onde revelou um distinto espírito empreendedor.
Contrariando o que seria esperado, Georges Choucair não assumiu os negócios de família e com 25 anos, em 1992,  parte para Angola, com um sonho na bagagem: construir sozinho o seu percurso profissional. «Comecei um negócio de importação de várias commodities, mas quase ao mesmo tempo a moeda nacional desvalorizou bastante e, depois de perder tudo, iniciei outro negócio no setor da panificação», recorda o empreendedor, para logo acrescentar: «Eu não sabia nada sobre fazer pão, não tinha qualquer experiência, mas decidi inovar e apresentei a baguete francesa ao mercado angolano, foi um grande sucesso». Em 1996, com o crescimento da padaria, idealizou construir uma panificadora industrializada e, na busca por materiais nacionais, de modo a otimizar os custos, percebeu a carência de varões de aço, que são a base de qualquer edifício. «Vi aqui uma oportunidade de negócio e comecei a importar varões de aço da Ucrânia, com o objetivo de também revender. O negócio cresceu e criei a Pagena, a minha primeira empresa no setor do aço», revela Georges Choucair. Esta empresa teve um crescimento exponencial trazendo a oportunidade de criar, em 2006, a ASC, Angola Steel Corporation, líder na distribuição de aço para construção civil.

«Estava decidido a produzir varões de aço de alta qualidade com certificação»

Porém, o empreendedor acreditou que podia levar o negócio mais longe, «em vez de ser dependente do Ocidente, poderia usar a sucata espalhada pelo país para produzir aço angolano e aproveitar a nossa distribuição para que esta matéria-prima chegasse à fábrica». Com a ideia definida, teve início o plano para construção de uma fábrica que beneficiaria a economia, através de um setor inexistente e, ao mesmo tempo, iria reduzir o peso das importações na balança comercial. «Estava decidido a produzir varões de aço de alta qualidade com certificação internacional, tal como as siderurgias mais importantes do mundo», salienta o industrial. Georges Choucair pretendia, ao mesmo tempo, quebrar o estereótipo de que as indústrias africanas não podiam competir, em qualidade, com as do Ocidente. A sua determinação seria exemplo para investidores estrangeiros em Angola e em África, como refere: «O desenvolvimento do nosso continente só pode vir da criação de riqueza pelos cidadãos, investimentos industriais sustentáveis e transformação de recursos que resultarão em mais postos de trabalho».
Após conhecer outras siderurgias, começou a construção de uma fábrica, com elevada tecnologia, amiga do ambiente e respeitando os padrões europeus, de forma que a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA), organização do Banco Mundial, com orientações para promover o Investimento Estrangeiro Direto (IED), nos países em desenvolvimento, determinou a viabilidade da Aceria de Angola. «Durante o tempo de construção da fábrica foram realizadas, por vários departamentos da MIGA, auditorias, muito minuciosas, até ao dia da inauguração», elucida Georges Choucair, que enfrentou vários desafios, como a falta de energia elétrica que o levou a investir 35 milhões de dólares numa rede de Alta Tensão, para que não tivesse quebras de produção. Em dezembro de 2015, a ADA é inaugurada, sendo, até hoje, o maior investimento privado industrial no país e um impulsionador de desenvolvimento económico e social na província do Bengo, já que 92% dos postos de trabalho são nacionais e 8% expatriados.

A Aceria de Angola detém três laboratórios, para análise da qualidade do aço

Ao longo dos anos, foram criados mais de quatro mil postos de trabalho indiretos, devido ao aparecimento de pequenas empresas especializadas na recolha de sucata. A Aceria de Angola detém três laboratórios para análise da qualidade do aço de forma a corresponder à norma europeia para varões direcionados à construção civil, LNEC E 450-2010 - A500 NR, sendo a primeira siderurgia em Angola e no continente com esta certificação.
O percurso empreendedor valeu a Georges Choucair várias distinções como Cônsul Honorário Geral do Senegal em Luanda, nomeação por decreto pelo Ministro da Economia, Finanças e Indústria de França, e conselheiro dos Negócios Estrangeiros do país, em Angola. Sendo também um filantropo, construiu e doou uma maternidade e fornece água potável à comunidade, entre muitas outras ações. Mas a sua maior obra, até agora, foi ter tornado Angola autossustentável em varões de aço na sua especificidade, exportando também para outros países. A Aceria de Angola faz parte do Grupo K2L – Capital S.A que detém, há 20 anos, empresas de siderurgia, distribuição, imobiliário e construção, empregando 1400 pessoas, em 16 instalações comerciais e industriais.

F. Daniel Camacho
F. Daniel Camacho
F. Daniel Camacho
F. Daniel Camacho
T. Cristina Freire