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· Responsabilidade Social · · T. Cristina Freire

Aldeia Camela Amões – Huambo

Um exemplo para o resto do mundo

PMMEDIA Pub.
F. Edson Azevedo
Idealizada por António Segunda Amões, a Aldeia Camela Amões pretende ser um exemplo na luta contra a pobreza. Edificada na província do Huambo, a pouco mais de 80 quilómetros da cidade capital com o mesmo nome, é visível por todos os que passam na estrada principal, sendo, à noite, tão iluminada que nos leva a imaginar o progresso que por ali já existe. O objetivo deste projeto piloto, que está a ser executado desde 2014, numa área de 40 mil hectares, é ser uma grande referência em África, para que haja mais interessados em replicar este exemplo noutros países do continente. 
António Segunda Amões
Uma força da natureza  

No município do Cachiungo, província do Huambo, continua a ser erguido o sonho de António Segunda Amões. Mesmo já não estando o seu idealizador no mundo térreo, a Aldeia Camela Amões mantém-se viva, com os descendentes a darem continuidade ao projeto. Tudo começou com uma apreciação de Maria Augusta Ferreira Amões, mãe dos seus oito filhos e sua companheira em todos os momentos, ao longo de trinta anos, como recorda Faustino Amões: «Quando um familiar nosso, que vivia aqui na aldeia, faleceu, a minha mãe veio ao funeral e não gostou de ver as condições em que a maioria das pessoas vivia. Então, disse ao meu pai que não era possível serem tão ricos e a aldeia onde ele tinha nascido ser tão pobre». Ao que tudo indica, o velório decorreu numa casa muito humilde, sem local sanitário. Ouvida a reprimenda, António Segunda Amões decidiu dar alguma integridade à aldeia. Foi construído um centro médico, uma escola, dois locais de culto – um protestante e outro católico – e uma loja que vendia bens de primeira necessidade. E quando tudo estava a ficar mais composto, foi feita uma casa, para o seu avô, que logo se destacou das outras. A partir deste momento surge a vontade de transformar tudo à volta. Para isso, foi elaborado um projeto extensível ao longo de 40 mil hectares, e a aldeia ganhou o nome de Camela – em homenagem ao seu bisavô –, porém a maioria das aldeias em volta chamavam-se Camela, que na língua Umbundu quer dizer «folha pequena», e, por isso, os camponeses à volta chamavam-na Camela do Valentim Amões, para a distinguir das outras, e em definitivo ficou Aldeia Camela Amões. Mas, se recuarmos no tempo, ficaremos a conhecer o outro lado da história, como relata Moisés Amões, sobrinho do filantropo: «A aldeia Camela Amões foi fundada em 1910, pelo neto do rei Ekuikui II, de quem descendemos, Prata Camela, e dizem os antigos que este fundador terá caminhado das terras do reino do Bailundo para se fixar na aldeia da Cavava, por volta de 1890, mas, vinte anos depois, seguiu outro rumo, aqui no planalto, onde acabaria por estabelecer, a 20 de fevereiro de 1910, a Aldeia Camela Amões. A coincidência é esta data ser o dia de nascimento de António Segunda Amões, mas em 1969».

«A vocação para empreendedor foi descoberta na alfaiataria Wapossoka»

Deixando as histórias de lado, é conhecido que o empresário humanitário, que liderava o Grupo ASAS, pretendia reestruturar mais aldeias em Angola, tornando-as autossustentáveis e com habitações dignas, tendo a proposta sido apresentada ao Governo. Ao mesmo tempo, mostrava claramente o que é que um empresário de sucesso com ativos consideráveis pode fazer pelo seu país. António Segunda Amões projetou habitações confortáveis, em vez de kimbos, estas já edificadas na aldeia, com três tipologias, como nos deu a conhecer o seu filho Faustino: «As do Tipo A são vivendas T3 e T4 para os técnicos que trabalham na aldeia, como enfermeiros, professores, pedreiros e outros; as do Tipo B são casas sociais para os habitantes locais e as do Tipo C são bangalôs construídos para o turismo». As casas sociais foram erguidas em meio hectare de terreno, para que os proprietários tenham um espaço de lazer e façam pequenas hortas para consumo próprio. Exceção feita a alguns materiais mais específicos, todos os outros utilizados na construção são locais, sendo os blocos de terra vermelha fabricados na aldeia. 
António Segunda Amões nutria de um desejo que a vida não deixou saborear. Este ser grandioso, que Angola recordará com saudade, teve um percurso de vida exemplar. Foi o quarto de sete filhos, de Moisés Amões e Rosa Navio, passou a infância e parte da adolescência entre Huambo e Kuando Kubango. Frequentou, na ex-União Soviética, o ensino superior, tendo-se formado em geologia e petróleos, na cidade de Baku, hoje capital do Azerbaijão, onde conheceu Maria Augusta Ferreira, que mais tarde levaria, por casamento, o apelido Amões. Efetuou especializações em Gestão e Economia e tinha um bacharelato em Direito. A vocação para empreendedor foi descoberta na alfaiataria Wapossoka, propriedade do irmão mais velho, Faustino, onde trabalhou como ajudante e, quando este não estava, assumia o negócio na perfeição. Mas antes, enquanto fazia a escola básica, ajudava a mãe no mercado e os irmãos com o negócio de café no Calilongue da Cuca, província do Huambo. Em 1991, funda a primeira empresa em Luanda, a Angostroi, direcionada à construção civil. Com as necessidades que se viviam no país, devido ao conflito armado, fundou várias empresas, com especificidades diferentes e, em 1997, faz a fusão de todas no Grupo ASAS. Fisicamente não está mais entre nós, mas o seu sonho pode levar África a caminhar para uma coesão social onde os mais vulneráveis terão igualdade de oportunidades. 
António segunda Amões na Aldeia Camela Amões
F. Direitos Reservados
António segunda Amões na Aldeia Camela Amões
António segunda Amões na Aldeia Camela Amões
F. Direitos Reservados
António segunda Amões na Aldeia Camela Amões
António segunda Amões
F. Direitos Reservados
António segunda Amões
António Segunda Amões com Petar Rajik, ex-núncio apostólico (representante do Papa) em Angola e São Tomé e Prícipe
F. Direitos Reservados
António Segunda Amões com Petar Rajik, ex-núncio apostólico (representante do Papa) em Angola e São Tomé e Prícipe
Aldeia Camela Amões
Um lugar encantado coberto por uma estrela  

Em frente à cordilheira de Lumbanganda, numa região envolta em histórias e lendas ancestrais, reis, sobas e paisagens verdejantes, salpicadas de terra vermelha, ergue-se a Aldeia Camela Amões, um projeto implementado em 40 mil hectares, com espaços para habitação, ensino, saúde, igrejas, lojas, lazer, campos agrícolas, pecuária, indústria, floresta, turismo e reserva de animais selvagens. Situado no município que já foi denominado Bela Vista, agora Catchiungo, e com um objetivo social jamais visto em Angola, a Camela Amões tem o propósito de valorizar as comunidades, muitas vezes esquecidas, do meio rural. 
Numa primeira fase, que decorre de 2014 a 2025, está previsto um investimento de 400 milhões de dólares, em várias infraestruturas, tudo edificado à medida do crescimento da população residente e consoante a procura por parte dos visitantes. Como a produção agrícola incide mais na batata e tomate, poderão ser construídas em breve duas unidades fabris, uma destinada à transformação da batata e outra à do tomate. O sonho de António Segunda Amões era imponente, como salienta o seu filho Faustino: «O nosso pai conheceu bem a África do Sul, que tem uma economia forte. Ele queria para a Camela Amões um pouco desse país, idealizou ruas largas, com tudo eletrificado e, para o processo agrícola, pretendia chamar angolanos formados em Agronomia». Ao caminharmos pelas ruas terraplanadas da aldeia vemos que há semáforos, ainda que o tráfego não seja volumoso. O objetivo é exercer um papel pedagógico na população que ali vive, pois a maioria, quando vai às grandes cidades, tem dificuldade de adaptação e, como já existem muitas motos e máquinas em constante movimento, estes sinais de trânsito são considerados como prevenção rodoviária. 

«O sonho de António Segunda Amões era imponente»

A Camela Amões compreende 30 aldeias envolventes, sendo que as casas sociais, avaliadas em 8 milhões de kwanzas, são entregues com tudo o que é necessário, desde mobiliário, equipamento de cozinha e até loiça e mudas de cama. Mas estas não são oferecidas aos moradores. Todas são propriedade de uma cooperativa habitacional e serão pagas, pelos próprios, em 40 anos. No entanto, o embolso não é realizado em dinheiro, mas sim em produtos agropecuários. Ou seja, uma família que adira a este modelo acaba por fazer parte também da cooperativa agrícola, esta instituição entrega tudo o que é preciso para que os residentes produzam bens alimentares, e a família entrega à cooperativa entre 10 a 15% da sua produção e mais 10% para amortizar o preço da casa. Os produtos excedentes podem também ser vendidos à cooperativa de forma a serem colocados em circuitos agroalimentares. Um camponês que pouco ou nada tinha será, na Camela Amões, proprietário, e a venda excedente da sua produção dinamizará a economia da região. 
A energia utilizada neste encantador local é oriunda de painéis solares e a água resulta de vários furos, sendo própria para consumo humano. O retorno deste investimento está também no turismo – embora ainda esteja em fase inicial, já são vistos muitos viajantes a passear na aldeia, na maioria movidos pela curiosidade, talvez por terem ouvido falar, já que este projeto foi distinguido na Cimeira Global de Comércio e Investimento em África, realizada nos EUA, em Washington DC, pela sua dimensão social na criação de setores produtivos no meio rural e valorização das comunidades locais.  
Atualmente, como atração, já existe uma zona vedada com alguns animais selvagens, como zebras, antílopes, búfalos e outros, e é esperada a construção de lagoas artificiais para patos, gansos e peixes. Para pernoitar, Faustino Amões esclarece: «Os turistas têm à sua espera 15 bangalôs, ao estilo sul-africano, encaixados na montanha, e para breve um hotel com 30 quartos e piscina comum». Há também restaurantes com comida típica angolana e várias ruas para caminhar e descobrir quem são os nomes que compõem a toponímia. «Todas as ruas da aldeia têm o nome de pessoas que ali já viveram e todas têm uma história. É bom que nós, angolanos, ou mesmo estrangeiros, venham cá conhecer este legado», frisa Moisés Amões, que entre outras atividades é professor numa das escolas da aldeia. Além disso, em cada esquina das imensas ruas, há sempre deliciosos sorrisos de crianças que vão de certeza ter um futuro promissor. Igualmente, uma das mais importantes instituições financeiras, o Banco Angolano de Investimentos, apostou na Camela Amões e, em breve, os cerca de três mil residentes já poderão efetuar as suas operações bancárias.

«A Camela Amões compreende 30 aldeias envolventes»

Esta povoação tão singular tem, ao contrário do esperado, uma Soba, Cassinda Muenecongo, mãe de três filhos, que é a chefe da aldeia e foi eleita, em 2018, sem contestação, pelo conselho dos mais velhos. A neta de Prata Camela diz: «A aldeia não tem muitos problemas, mas, às vezes, tenho de chamar à atenção as pessoas mais descuidadas, para não deixarem o gado andar na rua, de resto tudo é calmo». Foi também constatado, através de estudos, que sob alguns pontos deste grandioso povoado existem várias nascentes de água de elevada qualidade, por isso é esperado que, em breve, se veja a construção de uma fábrica de água mineral. 
Em conclusão, a Aldeia Camela Amões usa o meio rural para combater a pobreza e possibilitar um estilo de vida digno à população que vive em contextos vulneráveis. Para além de agropecuária, várias unidades fabris, comércio e serviços, há que contar com a indústria do turismo que aqui encontra terreno fértil para vários setores, desde o religioso, ao rural, não esquecendo a observação de animais e safaris, entre muitos outros. Este projeto está só no início, e, um dia, talvez numa época não muito distante, o sonho de António Segunda Amões será replicado por todo o continente africano, fazendo deste pedaço de terra um exemplo para o resto do mundo. 
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
Província do Huambo
Uma potência em desenvolvimento 

A província do Huambo, cujo nome tem origem no nome de Wambo Kalunga, fundador do reino de Wambo, está localizada no Planalto Central, onde se ergue o Morro do Moco a 2620 metros de altura, o ponto mais alto do país. A cidade capital com o mesmo nome foi fundada pelo General José Norton de Matos, em 1912, usando, antes da Independência, o nome de Nova Lisboa.
Com uma arquitetura exemplar, apresenta edifícios bem tratados e ruas ajardinadas. Segundo os censos de 2018, elaborados pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 2 309 829 habitantes e uma área territorial de 35 771 km², sendo a quarta província mais populosa de Angola. Considerada uma localidade rica em recursos naturais e minerais e com uma considerável rede hidrográfica e um clima temperado, a região direciona-se para atividades agropecuárias e agroalimentares. 

«Considerada uma localidade rica em recursos naturais»

É na capital que estão as mais conceituadas e antigas universidades de Agronomia e Veterinária do país. A indústria transformadora será também, num futuro próximo, um polo de interesse para investidores nacionais e estrageiros, já que as condições climáticas, rios e afluentes que se cruzam pela província favorecem a produção, em grande escala, de citrinos, frutas diversas, tubérculos, hortícolas, milho, trigo, soja e arroz, tal como a criação de gado e aves. Ao que tudo indica, o Polo Industrial da Caála, situado a 23 quilómetros da capital, poderá ser um catalisador para a fixação de várias unidades fabris, sendo que a província já conta com fábricas de transformação de rochas ornamentais, fabrico de tintas, tanques de água, colchões e reciclagem de pneus, todas de capitais privados. É estimado que estas estruturas empreguem cerca de 150 trabalhadores nacionais. 

«É na capital que estão as mais conceituadas e antigas universidades»

A cidade do Huambo é por excelência um ponto de encontro de jovens locais e de outras províncias devido às suas universidades e escolas técnicas dirigidas a vários setores económicos. A pouco e pouco, fica no passado a imagem de uma cidade e arredores devastados pelo conflito armado, antevendo-se para a província um futuro próspero com um nível de desenvolvimento económico e social bastante favorável, tal como antecipa Lotti Nolika, governadora da província. 
F. Edson Azevedo
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F. Edson Azevedo
F. Edson Azevedo
T. Cristina Freire