Villas&Golfe Angola
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Alexandra Lima

«Nós, mulheres, conseguimos fazer tudo aquilo que qualquer ser humano faz»

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Estudou em Luanda, mas, no ensino médio, optou por abandonar os estudos, por não se sentir realizada no curso. Inscreveu-se para assistente de bordo – exerceu por três anos. Mal abriu o curso de piloto, na antiga Jugoslávia, não hesitou, matriculou-se. Desde então, Alexandra Lima é apaixonada pela aviação. É comandante da TAAG. Enquanto copiloto, voou no maior avião bimotor do mundo, o Boeing 777-300ER. Fora do mundo profissional, Alexandra é uma chefe de família muito preocupada, adora cozinhar e estar com os filhos e netos, com quem gosta de ‘deitar conversa fora’ e «receber carinho e amor». Assume que tem muitos defeitos, mas está sempre à procura de se tornar uma pessoa melhor, a cada dia. Às mulheres do seu país e do seu continente gostava de lhes dizer que «lugar de mulher é aonde ela quer.»
Considera-se uma mulher apaixonada pelo que faz? Quando surgiu a vontade de ser comissária de bordo? 
Hoje, a minha grande paixão é a minha profissão. Acho que a vontade de ser assistente de bordo foi mais por causa da falta de vontade de continuar no curso em que estava. 

O que sentiu quando pilotou um avião pela primeira vez?
Voar o primeiro solo flight é um momento inenarrável e inesquecível. Um misto de felicidade e temor, porque a partir daí sou eu e o avião (risos). 

E o que sentiu quando pilotou o maior avião bimotor do mundo, o Boeing 777-300ER
Fiz parte do grupo que a Boeing foi buscar para os primeiros 777 e, logo ali, apaixonei-me. Ainda era copiloto. O dia em que voei como comandante foi muito especial, um sonho, um presente de Deus. 

Alguma vez sentiu medo num voo? Se sim, como ultrapassou esse medo?
Nós estamos preparados para emergências, pois usamos simuladores, fazemos revisões teóricas e treinos... O que não quer dizer que, perante certas situações, não sintamos medo, mas é preciso sempre calma e serenidade.

«A minha grande paixão é a minha profissão»

O que é que o mundo da aviação tem de tão especial, que a conseguiu manter até aos dias de hoje nos comandos? 
A aviação seduz e embriaga todos que nela entram, pelas mais diferentes formas, e eu não escapei (risos). Até mesmo quando estou de folga, apanho-me a olhar para cima, quando ouço o barulho de um avião. 

Ser comandante obriga-a a estar constantemente atualizada.
Os pilotos são obrigados a atualizações constantes. 

Via-se a fazer outra coisa que não fosse pilotar? 
Hoje não me vejo a fazer nada profissionalmente que não seja estar no cockpit de um avião. 

De todos os destinos para onde já voou, qual é aquele que mais a marcou e porquê?
Todos os destinos me encantam, quer seja pelo povo, pela cultura, pela culinária ou clima. Conseguimos sempre descobrir coisas e vivências diferentes.

«O machismo e a intolerância sempre existiram e não é diferente nos dias de hoje, infelizmente!»
Ao longo da sua carreira, alguma vez se sentiu insegura/desapontada por ser uma mulher comandante no meio de tantos homens? 
O machismo e a intolerância sempre existiram e não é diferente nos dias de hoje, infelizmente! Há que ser dura algumas vezes e exigir respeito SEMPRE. 

O que falta para que haja mais mulheres comandantes? 
A TAAG tem hoje uma comandante e três copilotos femininos. É um curso caro e talvez as pessoas não queiram arriscar porque é uma vida de muitos sacrifícios.

Tem, com certeza, a noção de que é um exemplo para as mulheres angolanas e africanas. Que conselhos deixaria a estas mulheres que pensam em seguir esta atividade profissional? 
Gostaria de dizer às mulheres do meu país e do meu continente que lugar de mulher é aonde ela quer. Nós, mulheres, conseguimos fazer tudo aquilo que qualquer ser humano faz, então, não podemos aceitar o que a sociedade quer. 

Celebramos o 13.º aniversário da revista Villas&Golfe, em Angola. O que representaram, para si, estes últimos 13 anos, na sua vida e no país?

Estes últimos 13 anos foram marcados por perdas e vitórias. Perdi a minha avó, que sempre foi a minha referência e que eu tanto amava, mas, há pouco tempo, ganhei dois seres, que me enchem a vida, que são os meus netos. Profissionalmente, aprendi mais, ganhei mais experiência.
Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. Edson Azevedo