O que agora se conhece como Grupo Arena iniciou atividade como Agência de Comunicação e Publicidade. Mas, ao longo de 20 anos, a pequena empresa progrediu para outros setores, como a indústria gráfica e prestação de vários serviços, produzindo, ao mesmo tempo, os maiores e mais importantes eventos em Angola. Em entrevista exclusiva à Villas&Golfe, o Presidente do Conselho de Administração, Bruno Ricardo Albernaz, licenciado em Ciência Política, conta a razão desta transformação e crescimento, destacando a essencial otimização dos recursos.
Se recuarmos 20 anos ficamos a saber como uma pequena empresa chegou a um dos maiores grupos empresariais.
Era mesmo uma pequena empresa de comunicação e publicidade, criada por dois jovens utópicos, eu e o meu sócio. Foi uma aventura. Estávamos no fim do conflito armado e ninguém queria saber de comunicar produtos. Eram os amigos dos pais que nos ajudavam a fazer alguns trabalhos, porque o mercado não precisava deste serviço, tudo o que se colocava à venda desaparecia. No entanto, percebemos que conseguíamos organizar eventos, juntámos este skill à publicidade e nasceu, em 2003, a Eventos Arena, e logo produzimos a primeira feira setorial de Angola, a Constrói Angola, que tinha três salões – arquitetura, obras públicas e construção; tecnologia e ciência; e telecomunicações – e correu muito bem.
E perceberam que as feiras seriam o vosso caminho profissional?
Sim, até porque em 2004 voltámos a fazer a Constrói Angola, com o mesmo formato, e, em 2005, passámos a fazer oito feiras, todas setoriais. Nesse ano, Angola assistiu a um crescimento tremendo de feiras. Com tudo o que já fazíamos, em termos de apoio aos expositores, fomos criando várias empresas, como a Beline Stands, que dava resposta às necessidades de quem queria estar presente, mas não tinha como produzir a estrutura para a feira. Criámos também uma agência de viagens – a Arena Travel –, porque havia expositores internacionais. E nasceu também, nessa época, um rent a car, porque era preciso ir buscar as pessoas aos hotéis. Simultaneamente, demos mais força à Agência de Comunicação e Publicidade. Desde então, tal como agora, oferecemos um produto chave na mão, os nossos clientes não têm de se preocupar com estes aspetos operacionais. O Grupo Arena é responsável pela organização da FILDA (Feira Internacional de Angola), o maior certame empresarial do país.
«Nós criámos profissões que não existiam em Angola»
Essa visão tão abrangente foi conseguida pelas oportunidades que surgiam?
Talvez, mas eu percebi, creio que antes do tempo, o que o mercado estava a pedir. Acho que sou um bocado atrevido, com uma dose de loucura, o que também é importante, pois havendo alguma serenidade no momento de decisão, o resultado é bom. Crescemos muito rápido, por isso tivemos de nos organizar, otimizar todos os recursos e centralizar todos os escritórios num só espaço e, em 2010, foi criado oficialmente o Grupo Arena.
O grupo é Indústria Gráfica e também Empresa de Serviços. Como ultrapassaram os desafios na formação dos colaboradores?
Nós criámos profissões que não existiam em Angola, não havia eletricistas especializados em eventos, nem quem soubesse montar stands e colocar aplicações de vinil. Havia carpinteiros tradicionais, mas não com prática de stands, tal como serralheiros e marceneiros. Nem tão-pouco havia pessoas que operassem máquinas de impressão digital. Formámos os nossos colaboradores e desenvolvemos um capital humano digno. Estamos localizados no Cazenga, em Luanda, e é um orgulho enorme ver que miúdos deste bairro, que aqui começaram a trabalhar sem saber nada, são agora quem ensina e tornaram-se chefes de família extraordinários e honrados. De momento, temos cerca de 40 funcionários com 15 anos de casa; no todo são 228 trabalhadores. É uma honra termos tido um papel social tão importante refletido na formação.
«Angola abriu-se ao mundo e tivemos de aguentar a concorrência»
Foram grandes investimentos ao longo dos anos…
Procurámos sempre investir muito para estarmos ao nível do que há de melhor no mercado. Apostamos em máquinas de qualidade com matérias-primas fiáveis. E os nossos colaboradores manuseiam todas as máquinas sem problema. Neste setor quase não temos expatriados, temos homens que se fizeram aqui. Quanto aos expatriados que temos, para trabalhos específicos, saliento que deixem aqui o conhecimento e ensinem os nossos colaboradores.
Como foi posicionar o Grupo Arena nesse tempo?
Sempre estivemos em desvantagem. Antes de mais, pelo facto de sermos angolanos num mercado onde estavam a chegar os tubarões da publicidade e da indústria gráfica, com mais de 20 anos de experiência, e outras empresas que faziam o mesmo que nós. Angola abriu-se ao mundo e tivemos de aguentar a concorrência. Eram bastante agressivos, habituados a um ritmo alucinante, estavam preparadíssimos, com técnicos de topo, e vieram concorrer connosco, que erámos pequeninos e sem grande passado profissional, ao contrário deles que tinham provas dadas no mercado.
Qual foi a estratégia utilizada para não serem engolidos?
Além da audácia, foi o facto de só dependermos do nosso trabalho; eles dependiam da casa-mãe, eram empresários como nós, mas pensando sempre na maximização do lucro, logo tudo o que ganhavam seguia para a sede, que era no exterior. No nosso caso, tudo o que ganhávamos ficava aqui e investíamos em máquinas, veículos ou o que fosse necessário. Tivemos algumas dificuldades, porque ficávamos com os trabalhos piores – num projeto para uma rede bancária, se houvesse uma multinacional e nós, os que decidiam optavam sempre pelos internacionais. Nós íamos fazendo os trabalhos nos locais mais longe da cidade, e com isto tivemos de fazer muitas montagens noutras províncias, mas fomos, sem hesitar.
«Tenho muito prazer naquilo que faço»
Como faziam para deslocar o material e as pessoas?
Criámos uma empresa de transporte, não podíamos depender de terceiros, se queríamos cumprir prazos. Ao longo dos anos, errámos e sempre assumimos com humildade esses erros; agora, o cliente entrega-nos um trabalho e fica tranquilo, sabe que a nossa estrutura é grande e que já temos um volumoso passado profissional. Os internacionais ajudaram-nos a crescer, espicaçaram-nos, e, nos anos áureos de 2007 a 2009, passámos por uma luta fortíssima, estávamos cercados de concorrentes brasileiros, portugueses e sul-africanos, mas sobrevivemos e muitos já não estão em Angola.
Foram desafios constantes, mas não desistiu.
Tenho muito prazer naquilo que faço e sinto uma alegria enorme quando vejo que um evento ou trabalho está terminado. Sei que ainda me falta fazer muito pelo meu país, temos obrigação de fazer muito melhor. Acredito que sou movido por uma grande vontade de querer fazer grande e muito bom e deixar além-fronteiras uma excelente imagem de Angola. Tenho uma paixão tremenda pelo meu país.