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José António Barata

«O propósito da Deloitte está no impacto que cria no mundo»

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Quem o conhece sabe que, dentro ou fora do escritório, a persona é a mesma pessoa. Fiel aos seus valores, ao nível de exigência e à procura constante pela excelência, o presidente da Deloitte Angola apresenta-se à V&G Industry não só como líder, mas como o José Barata. Português residente em Angola, o empreendedor é hoje produto das suas experiências. Desde a sua integração no mundo profissional, em 1992, que o ritmo de trabalho não conhece épocas baixas, tendo, ao longo do percurso, amadurecido a sua experiência em empresas líderes por Angola, Portugal e São Tomé e Príncipe. Antes de assumir o cargo de Presidente da Deloitte Angola, José Barata foi o sócio responsável pelo setor da banca em Portugal e Angola. De olhar atento ao que o rodeia, fala-nos do que tem trazido de novo à empresa, deixando mensagens quanto às perspetivas futuras do país angolano. 
O José Barata é a mesma pessoa a partir do momento em que entra no escritório?
É a primeira vez que alguém me faz essa pergunta, mas a resposta é muito simples, porque quem me conhece sabe que sou exatamente a mesma pessoa, dentro e fora do escritório, com os mesmos valores, nível de exigência e procura constante pela excelência. Como é óbvio, quando entro no escritório, ou começo o meu dia de trabalho nos clientes, tenho a responsabilidade acrescida de formar os líderes de amanhã e, por isso, tenho de adaptar algumas das minhas características para potenciar os profissionais da Deloitte. 

Tem uma sólida carreira e uma vasta experiência, particularmente, no setor financeiro. Fale-nos um pouco do seu percurso até chegar a presidente da Deloitte Angola.
Iniciei a minha carreira no ano de 1992 como Auditor na Arthur Andersen, empresa que acabou por ser integrada, mais tarde, na Deloitte. Desenvolvi o meu percurso profissional em empresas líderes do setor financeiro em Angola, Portugal e São Tomé, tendo liderado vários projetos de grande escala nestas geografias, nomeadamente, nas áreas de auditoria e consultoria. Neste seguimento, gostaria de destacar dois projetos em Bancos Centrais da CPLP, relacionados com o processo de Avaliação da Qualidade dos Ativos do setor bancário, bem como a implementação das IAS/IFRS. Este meu percurso de aprendizagem constante só foi possível porque tive, e tenho, a oportunidade de trabalhar com profissionais de enorme qualidade, que me têm vindo a desafiar, potenciando o meu crescimento pessoal e profissional. De forma complementar, gostaria de referir que obtive, em 2002, o título de Revisor Oficial de Contas, estando inscrito na Ordem dos Revisores Oficiais de Contas em Portugal. Também estou inscrito como Perito Contabilista da Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas de Angola, desde 2013. Antes de assumir o cargo de Presidente da Deloitte Angola, era o sócio responsável pelo setor da banca em Portugal e Angola, o que me permitiu ter uma visão abrangente sobre o setor, alicerçando ainda mais as minhas competências de gestão. 

Como estava a empresa quando chegou e como se encontra no momento?
Assumi a liderança da Deloitte Angola em 2019 e, desde já, quero agradecer o trabalho desenvolvido pelos meus antecessores, que lideraram esta firma com mestria, ajudando a criar as raízes para a Deloitte ser, hoje, uma das marcas com maior notoriedade em Angola. Quando me foi lançado o desafio, fiquei extremamente lisonjeado pelo convite e confesso não ter hesitado, não obstante o contexto macroeconómico muito desafiante, porque tinha ideias muito concretas para elevar ainda mais o nome da Deloitte em Angola, mas também em África. Hoje, é com particular satisfação que vejo a Deloitte como uma marca prestigiada no mercado, com elevada credibilidade junto dos clientes e da sociedade em geral, algo que só se alcança com uma equipa de profissionais muito competente, com um forte compromisso e uma vontade de superação constante. Temos vindo a realizar um conjunto de iniciativas que o mercado valoriza e que pretendemos manter durante os próximos anos, tais como o Banca em Análise, o Tech Trends e, este ano, os Prémios SIRIUS, depois de um interregno causado pela pandemia COVID-19. Aproveitaremos para efetuar um conjunto de reflexões internas e algumas melhorias para adaptar à realidade atual, nomeadamente, ao nível dos critérios de avaliação e elegibilidade, formato dos prémios, categorias adicionais, entre outros. 

A Deloitte é conhecida pelas atividades prestadas no domínio da auditoria, mas não só. Como descreve a atuação da Deloitte Angola em todas as suas vertentes?
A Deloitte está presente no mercado nacional há mais de 27 anos e, considerando que prestamos serviços em várias áreas para além de auditoria, tudo o que fazemos é sustentado naquilo em que acreditamos, nos nossos comportamentos e no sentido de propósito, consubstanciado numa cultura e valores partilhados. Somos uma empresa multidisciplinar, que tem como objetivo diferenciar-se no mercado através da disponibilização de ofertas integradas de serviços, com o propósito de apoiar clientes a materializarem os seus objetivos. Nesta senda, temos desenvolvido vários projetos no país, onde é integrada uma parte relevante das áreas da Deloitte, desde a Assurance, Consultoria, Corporate Finance, Risk Advisory, Outsorcing à Consultoria Fiscal, de forma a captar as valências únicas que cada uma dispõe, transformando a experiência de trabalhar com a Deloitte em algo único. É este foco que alicerça e alimenta o compromisso, assim como a humanidade que colocamos em todas as nossas ações.

«Orgulhamo-nos de dizer que somos a primeira escolha dos melhores talentos de Angola e a entidade que contrata mais recém-licenciados»
A aposta no capital humano e a sua capacitação tem sido uma das missões da Deloitte Angola?
A contratação de jovens angolanos tem sido uma aposta clara da nossa firma e, neste momento, temos mais de 450 profissionais, na sua grande maioria nacionais. Aliás, só este ano contratámos mais de 60 jovens angolanos, não só porque consideramos que este é o caminho para reforçar o progresso sustentado da nossa atividade em Angola, mas também porque acreditamos no talento existente no país. Para este fim, temos desenvolvido processos de recrutamento junto das principais universidades angolanas e procurado também atrair jovens angolanos que estudaram no estrangeiro, dando-lhes, desta forma, a possibilidade de contribuírem para o desenvolvimento do seu país, a partir da experiência ganha no exterior. Hoje, orgulhamo-nos de dizer que somos a primeira escolha dos melhores talentos de Angola e a entidade que contrata mais recém-licenciados. 

Qual é o elemento-chave que sustenta e permite aprimorar as operações das empresas, em Angola?
A Deloitte está presente em todos os setores de atividade, designadamente nos setores financeiro, das telecomunicações, no Oil & Gas, mineiro, na distribuição e no retalho, prestando um serviço de qualidade e criando valor, independentemente da localização e da atividade dos nossos clientes, porque dispomos de equipas especializadas num conjunto vasto de matérias. Neste momento, estamos a fazer uma grande aposta em tecnologia, onde um dos pilares é a parceria estratégica com a Universidade Católica de Angola, denominada «Mais Futuro» e que inclui a capacitação técnica dos estudantes do curso de engenharia informática, do terceiro ao quinto ano e, futuramente, a oferta de bolsas de estudos mediante testes, com o objetivo de reforçar a capacidade tecnológica e experiência prática dos estudantes. O futuro em Angola e em África passa pelo desenvolvimento de tecnologias de informação, face à juventude da pirâmide etária, sendo, por isso, uma aposta natural da Deloitte. Para além do tema da tecnologia, estamos focados no desenvolvimento das ofertas em temas relacionados com o ESG e energias verdes, com a contratação de especialistas e reforço de competências nesta área, de forma a apoiarmos os nossos clientes nestas matérias tão importantes, como o da sustentabilidade. Importa salientar neste quesito que dispomos de uma carteira de clientes composta pelos principais players do mercado, mas também apoiamos empresas de média dimensão. Por mais relevantes que sejam os factos e números sobre a nossa atividade, o verdadeiro propósito da Deloitte está no impacto que cria no mundo. 

Quais são os principais desafios para o mercado de capitais?
Os passos relevantes que o executivo angolano tem dado ao nível da regulação, tendo em vista a dinamização do mercado de capitais, tendem a preparar a economia nacional para novos desenvolvimentos, de onde se destaca a execução de um programa de privatização de empresas nacionais de referência (PROPRIV).
O objetivo principal do mercado de capitais é o reforço da eficiência económica e a alavancagem da economia, proporcionando liquidez às empresas públicas e viabilizando o seu processo de recapitalização. Para isso, é importante assegurar que, no futuro, o foco se materialize na melhoria da literacia financeira dos agentes que atuam nesse mercado.De facto, o aumento das competências dos agentes nesta área constitui um dos maiores desafios atuais para o mercado de capitais. Intermediação financeira, mercado primário e secundário, ações, títulos e valores mobiliários: que conceitos são estes e como podem ser definidos? Mas será que o conhecimento e domínio destes conceitos é o mais importante? Numa primeira fase, talvez sejam as competências técnicas as mais relevantes. Porém, não será possível atingir os resultados que o executivo pretende sem uma mudança de mentalidade e de comportamentos. Esta mudança tem de ser iniciada com uma melhoria na confiança dos agentes do sistema financeiro, seja daqueles com excedentes de liquidez, ou mesmo dos que têm necessidades de financiamento. Para além do Estado, que pretende reduzir o peso e as suas intervenções na economia, as instituições bancárias e as seguradoras têm um papel fundamental e uma enorme responsabilidade no fomento da confiança e credibilidade do sistema financeiro. Neste contexto, a melhoria contínua dos agentes económicos nacionais, com enfoque no reforço de conhecimentos e de competências de natureza financeira e na qualidade da regulação, em linha com as melhores práticas internacionais, deve ser encarada como o principal fator de potenciação de um mercado de capitais eficiente e dinâmico, que venha a concretizar um impulso para a economia e, em última instância, para a sociedade angolana.
Atendendo a este propósito, a Deloitte estabeleceu uma parceria com a Comissão do Mercado de Capitais (CMC), em conjunto com a Academia do Empreendedor de Luanda, a Acelera Angola e o Founder Institute, para participar no Programa Emergentes. Este tem como objetivo orientar e apoiar as pequenas e médias empresas, tendo em conta o estádo, estratégia e ciclo de desenvolvimento empresarial, visando aprimorar as práticas de governação e gestão, maturar os seus produtos e serviços, por forma a capacitá-las a obterem financiamento por via dos instrumentos do mercado de capitais. Além disso, a Deloitte tem vindo a apoiar algumas das empresas no PROPRIV, o que a coloca numa posição única para prestar serviços às empresas que tenham como objetivo entrar, a médio prazo, no mercado de capitais.

Os resultados alcançados pela banca angolana, em 2022, revelaram-se positivos, graças, também, à melhoria do rating da dívida pública. Para o presente ano, o que é que as instituições financeiras deverão fazer para consolidar esta tendência?
Tal como tive oportunidade de referir na apresentação do Estudo Banca em Análise 2022, a orientação dos principais bancos a operar no mercado deverá assentar numa análise do seu (re)posicionamento e modelo de negócio, que seja potenciadora de maior eficiência e retorno, atendendo às necessidades de natureza tecnológica e de promoção da inclusão e consequente aumento da bancarização, bem como aumentar o crédito à economia, através de programas como o PRODESI.
Importa salientar que o resultado líquido que os bancos têm vindo a registar nos últimos anos está muito alicerçado na margem complementar, em particular nos resultados cambiais e na margem financeira obtida, essencialmente, através do investimento em títulos de dívida pública, que deixarão de ser a alavanca dos resultados líquidos no futuro.Desta forma, é essencial que sejam definidos novos modelos de negócio, que permitam aos bancos assegurar um posicionamento diferenciado, tanto ao nível da segmentação de clientes, como de produtos e serviços, trazendo outras fontes de rendimento.

«O futuro (...) passa pelo desenvolvimento de tecnologias de informação»
Está prestes a decorrer a 9.ª edição dos Prémios SIRIUS. Nove anos depois, o que tem representado para o país esta iniciativa?
Os Prémios SIRIUS são uma iniciativa de referência, promovida pela Deloitte Angola. Há, portanto, o objetivo de premiar a qualidade da informação prestada ao mercado, os desempenhos de excelência no setor empresarial público e privado e as pessoas e projetos que mais se distinguiram nos diversos setores de atividade, cujo contributo foi determinante para que Angola continuasse a olhar para o futuro com confiança. Estes prémios também têm como propósito incentivar as gerações mais novas a seguir o caminho das boas práticas de governação nas organizações, na valorização do capital humano, na produção rigorosa, atual e transparente de informação, na solidariedade social, na valorização do papel do investimento produtivo e na responsabilidade pela criação de riqueza e pela melhoria dos índices de bem-estar social do povo angolano. 

Para um futuro próximo, quais são os planos traçados para a Deloitte Angola?
Para um futuro próximo, os planos da Deloitte Angola passam por fortalecer a posição de liderança no mercado, não só na auditoria e consultoria, como também em todas as suas áreas de atuação, continuando a entregar valor aos clientes, estabelecendo parcerias de negócio duradouras, também para que os clientes não a vejam apenas como uma empresa de prestação de serviços profissionais, mas como o principal parceiro de negócios. Temos também o objetivo de aumentar o quadro de pessoal e melhorar o work-life balance dos profissionais, de forma a garantir que a Deloitte continua a ser uma das melhores empresas para trabalhar em Angola.  
T. Joana Rebelo
F. Délcio Teixeira