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Kanda Kassoma

«Vamos ter novas coleções de inspiração angolana»

PMMEDIA Pub.
De início, ficou reticente, ‘torceu o nariz’... pois pensava que nada percebia do negócio. Mas uma visita à fábrica, em Portugal, fez com que mudasse de ideias. Ficou rendida e soube que tinha uma missão a cumprir. Parece que foi ontem, mas Kanda Kassoma, hoje com 46 anos, lidera a Vista Alegre em Angola, através da Etosha Trading, há precisamente dez anos. Um percurso que nem sempre foi fácil. Mas tudo se revelou motivo de orgulho. A sua dedicação, enquanto administradora, à marca, o crescimento sólido e o futuro promissor. Uma década que se festeja já a pensar na próxima. Com a abertura de uma nova loja em breve, a sedução de novos mercados e algumas surpresas na manga. 
«Para o próximo ano, temos definido ter presença em duas outras províncias de Angola – Benguela e Huíla»

A Etosha Trading tem representado em Angola, desde 2013, os produtos da Vista Alegre – o maior grupo português de «tableware» e o sexto maior do mundo no setor. Que desafios e aprendizagens tem este trabalho representado para si e para todos os envolvidos?  
Representar uma marca como a Vista Alegre (VA), que está em mais de 70 países e existe há 198 anos, é, no mínimo, uma grande responsabilidade. O que faz com que todas as nossas ações no mercado nacional sejam desenvolvidas com o máximo de zelo e retidão. Trouxemos para Angola uma marca que faz parte da história de Portugal e que tem forte presença a nível mundial, fruto da enorme reputação e credibilidade que conquistou ao longo do tempo.  
Do ponto de vista profissional, temos a possibilidade de estar em contacto permanente com profissionais portugueses que gerem uma «casa» global e trabalham em vários mercados internacionais, o que me tem permitido aprender e crescer muito como gestora.  
A VA tem, no seu ADN, a cultura e as artes, prova disso são as várias coleções e peças que tem desenvolvido com artistas de todo o mundo. Conhecer cada uma destas coleções acabou por despertar em mim um interesse maior pela promoção e valorização da cultura, especialmente a nossa. Posso dizer que hoje conheço um pouco mais do mundo por causa das viagens que as peças da VA me proporcionam.    

Como foi que a Etosha Trading entrou nesta aventura?  
Foi um convite do Eng.º Fernando Nunes, presidente e fundador do Grupo Visabeira, que detém o Grupo Vista Alegre. Numa das suas visitas a Angola, em 2012, ele perguntou-me se não teria interesse em representar a marca aqui. Devo dizer que na altura torci um pouco o nariz, porque não tinha qualquer tipo de experiência com o retalho. Pouco tempo depois dessa conversa, fui a Portugal visitar a fábrica e fiquei absurdamente encantada. Já conhecia a marca, as lojas em Lisboa, mas ter a oportunidade de ver como são fabricadas as peças, o processo de produção manual (manual mesmo) de algumas peças, perceber o nível de tecnologia usada e o rigoroso processo de controlo de qualidade, bem como toda a história da evolução da marca, foi das experiências mais avassaladoras que tive na vida.
O que mais me impressionou foi a sala de pintura manual. Muitas vezes olhamos para as peças já acabadas e não temos noção da dimensão de todo o trabalho e processo que há por detrás. Decidi, naquele momento, que sim, que fazia todo o sentido trazer a Vista Alegre para Angola, até porque já era uma marca bastante conhecida do público angolano. Em poucos meses, e com o apoio da Vista Alegre Portugal, montamos a loja e abrimos as portas, a 25 de novembro de 2013. Este ano, celebramos 10 anos de presença da marca em Angola, facto que me deixa bastante orgulhosa.  

Em 2013, a empresa angolana inaugurou a primeira loja da marca Vista Alegre na zona da Sagrada Família. E, em pouco tempo (2017), transferiu-se para as Loanda Towers, um passo importante que trouxe ainda mais visibilidade. Estão previstas mudanças/alargamentos ou novas aberturas?  
Cinco anos depois de abrirmos a primeira loja, em maio de 2017, mudámos para as Torres Loanda, porque precisávamos de um espaço maior, para atender, não só os nossos clientes particulares, mas também os clientes do segmento corporativo.  
Estamos com o pé no acelerador para abrir, no final de julho, a nossa segunda loja no Belas Shopping, em Talatona.   

Qual a principal estratégia da empresa no país? E qual o perfil dos clientes da Vista Alegre em Angola?  
Em Angola, temos o foco voltado para o cliente particular, mas, ao longo dos últimos cinco anos, estendemos também, com bastante sucesso, os nossos serviços e produtos aos clientes corporativos. Neste segmento ainda temos um longo percurso a percorrer. Mas estamos todos os dias atentos às novas oportunidades.  
Para o próximo ano, temos definido ter presença em, pelo menos, duas outras províncias de Angola – Benguela e Huíla, diretamente ou por meio de parceria, o que ainda estamos a explorar.  

«As coleções de inspiração angolana foram um dos nossos maiores sucessos de venda»
Os problemas ligados à importação de peças e às divisas estão ultrapassados?
Tivemos momentos muito difíceis em 2015 e 2016 em que o acesso às divisas era escasso, as operações simplesmente não saíam e, nessa altura, cheguei a ponderar o encerramento da atividade, porque chegamos a ficar mais de um ano sem fazer pagamentos ao nosso fornecedor (VA Portugal). Foi um momento muito complicado, que conseguimos ultrapassar pela relação de muita confiança com o Grupo Vista Alegre, que nos apoiou nesse período complicado. Como se costuma dizer, é nos momentos de dificuldade que conhecemos os nossos verdadeiros amigos, e foi nessa altura que percebi o real significado do termo «parceiro».  
Hoje, infelizmente, voltamos a ter uma situação em que a kwanza está a sofrer desvalorização acentuada, as divisas são muito caras, situação que muito pensei que não fôssemos voltar a viver. Pelo menos não no nível que estamos. Confio e espero que a equipa económica consiga rapidamente dar a volta à situação, porque este é o nosso país e estamos aqui para fazer a nossa parte, que é criar emprego, contribuir para a geração de recursos para o Estado e dinamizar a nossa economia.  
Aproveito este espaço, inclusive, para agradecer a toda equipa da Vista Alegre Portugal que nos tem acompanhado nestes dez anos, como o Dr. Carlos Costa, hoje Administrador do Grupo Vista Alegre, o Dr. Gustavo Amorim, diretor do mercado de África e, principalmente, ao Eng.º Fernando Nunes, o grande dinamizador desta parceria entre a Etosha Trading e o Grupo Vista Alegre.   

Os serviços Samakaka BlueMixinda e Rosa de Porcelana são inspirados na cultura angolana. Qual a recetividade no mercado? Podemos esperar mais apostas idênticas no futuro?
As coleções de inspiração angolana foram um dos nossos maiores sucessos de venda. Tivemos a oportunidade de apresentar ao mercado louça com motivos da nossa cultura, com o selo de qualidade da Vista Alegre. 
Samakaka Blue e o Mixinda foram lançados na mesma altura, em 2015, e o Rosa de Porcelana, em 2018. A nossa intenção na altura era ter estas coleções por três anos, no máximo, mas a recetividade do público angolano foi tão boa que continuamos a produzi-las e só este ano foram descontinuadas. E sim, vamos ter novas coleções de inspiração angolana.  

Dentro da estratégia de desenvolvimento empresarial são apoiadas várias iniciativas, como o Comité Paralímpico Angolano. Pode falar-nos da importância dessa ação e de outras de âmbito social?
A Seleção Angolana Paralímpica de Futebol foi nossa convidada num dos eventos que fizemos no âmbito da Agenda Cultural e, durante a preparação da participação, tive um contato mais próximo com o trabalhado desenvolvido pelo Comité Paraolímpico e também com os jogadores que, apesar de tantas dificuldades, estavam unidos e dedicados e dispostos a todo o tipo de sacrifícios em nome da equipa. Por isso, durante um ano, doamos 5% da nossa faturação a este Comité. Foi muito gratificante poder fazer alguma coisa por esses bravos heróis que levaram a bandeira de Angola tão alto e, no final, foram campeões mundiais. 
Além disso, temos tido outras iniciativas de cariz social, como o apoio à Fundação Mulher Contra o Cancro da Mama.  
Aprendi com a minha avó Laurinda Catuta que, por pouco que seja, é importante ajudar o próximo. E assim vamos fazendo a nossa parte, sem muito alarido.  

É, desde o início, a cara da Vista Alegre em Angola. Quem é a Kanda Kassoma?
Tenho 46 anos de idade e sou mãe de quatro filhos, três rapazes e uma menina. Formei-me em Gestão de Empresas na Universidade de Middlesex, em Londres, e foi aí que ‘desabrochei’, porque tive muitas vezes de tomar decisões sobre a minha vida e o meu futuro sem a presença dos meus pais.  
Após a conclusão da minha licenciatura, em 1999, retornei a Angola e fui trabalhar na Sonangol Distribuidora, onde viria a ter a minha primeira grande experiência de trabalho. Tive o privilégio de trabalhar com pessoas maravilhosas, que foram verdadeiros mentores. Foi na Sonangol que aprendi a trabalhar na realidade, porque a universidade abre a nossa mente para o aprendizado, mas é na prática, no dia a dia profissional, que de facto aprendemos. Depois de dez anos de Sonangol, mudei-me para o Huambo e aí comecei a dar os primeiros passos no mundo empresarial. Cometi vários erros, e aprendi com cada um deles. 
Hoje, com 46 anos, lidero a Vista Alegre em Angola e também a Fazenda Tchissola V, em Luanda, onde produzimos manga. Portanto, com muita facilidade é possível encontrar-me um dia na Vista Alegre, no meio do brilho e do luxo dos cristais e porcelanas finas e, no outro, em cima de um trator.   
T. Filomena Abreu
F. Edson Azevedo