Villas&Golfe Angola
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Indústria Transformadora 
· · T. Cristina Freire · F. Edson Azevedo

Ramzi el Houchaimi

«Estamos confiantes no futuro de Angola»

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Ramzi el Houchaimi nascido na capital do Líbano, em plena guerra , chegou a Angola por convite de um amigo, e logo percebeu que este seria o país onde iria viver e investir. Estavam assim lançados os primeiros degraus da IMEX, uma unidade industrial, especialista em vários produtos, como depósitos de água, colchões, tintas e sacos de ráfia, que utiliza um método japonês para aumentar o bem-estar dos colaboradores e a produtividade. Após quase 20 anos a operar no mercado angolano, a empresa estendeu os seus negócios a outros setores, onde se registam grandes investimentos a par com a criação de mais postos de trabalho. 


Percorreu um longi caminho, de Beirute até à sua fixação em Angola...
De facto, estava a fazer um MBA em Londres, quando um amigo, que também vivia em Inglaterra, me falou de Angola, porque a família tinha aqui negócios. Porém, após a minha graduação, fui para o Gabão, onde um tio trabalhava na indústria do plástico. Fiquei lá dois anos e aprendi bastante. Em 2002, tinha 22 anos quando o meu amigo me fez o convite para vir a Angola. Durante esse ano, fizemos um estudo de mercado de forma a conhecer as necessidades do país, tendo concluído que fabricar tanques para água seria uma boa aposta. Logo em 2003 foi criada a primeira fábrica da IMEX de depósitos em plástico, sob a marca Hipo. 

Também começaram a fabricar colchões. Havia escassez?
Sim, fizemos um estudo prévio e, em 2008, decidimos investir numa fábrica de colchões de espuma, em Luanda. Percebemos que havia mercado e expandimo-nos para Benguela e, em 2009, iniciámos uma fábrica, do mesmo produto, no Huambo. Em 2012, fizemos um investimento para centralizar em Viena, província de Luanda, a fábrica de tanques e a de colchões; comprámos máquinas novas e começámos a fabricar colchões de mola e tubos de PVC e polietileno. 

«EM 2003 FOI CRIADA A PRIMEIRA FÁBRICA DA IMEX DE DEPÓSITOS EM PLÁSTICO»

Nas primeiras duas décadas deste século, houve outros negócios?
Em 2008, o Grupo IMEX realizou uma joint venture com o Webcor Group, que pertence ao setor agroindustrial de produção e distribuição de alimentos. E, em 2010, adquirimos ações da Indústria Baluarte, que fabrica tintas, e acabámos por criar as nossas marcas – DecorAmbience e Sopinta –, e também por fabricar baldes de plástico e latas para tintas, que vendemos para outras fábricas. 

Anos depois começaram a fabricar sacos para várias finalidades.
Estávamos em 2018 quando foi inaugurada a primeira unidade de produção de sacos de ráfia que servem para farinha, cebolas, cimento e muitas outras utilidades. Em 2019, passámos para a segunda fase e, agora, em 2021, concluímos a terceira, esta com um investimento de dez milhões de dólares. A nossa capacidade de produção diária passou de 150 mil unidades para 250 mil e com isto foram criados mais 200 novos postos de trabalho, 190 nacionais e 10 expatriados. 

Quantos trabalhadores tem, neste momento, nos vários setores?
Temos 450 trabalhadores, 410 nacionais e 40 expatriados. Fomos nós que demos a formação, para cada setor, a todos. Investimos no método japonês Kaizen, porque provoca um aprendizado mais rápido e a produtividade é bastante maior. Nas nossas fábricas está tudo otimizado e alinhado, para que não haja perdas de tempo, e usamos muito a cor, porque, quando uma pessoa vem trabalhar, se a sua área de trabalho não está organizada, bonita e limpa, não há motivação. É preciso que o país faça um grande investimento na formação profissional. Não faz sentido ainda termos de mandar vir expatriados para montar uma fábrica, indo depois encarecer o produto final. 

«FAZ FALTA, EM ANGOLA, UMA FORTE INDÚSTRIA PETROQUÍMICA»

A matéria-prima que utilizam é importada?
É tudo importado do continente asiático e europeu. Faz falta, em Angola, uma forte indústria petroquímica. Para o nosso e outros setores seria muito importante, porque o dinheiro gasto noutros países ficaria no mercado nacional. Ainda que isso pudesse não se refletir nos preços finais – porque muitos dos produtos petroquímicos têm um valor universal –, pelo menos reduziríamos o preço de frete. 

Voltando aos produtos comercializados, têm também eletrodomésticos. 
Somos um Grupo com muitos setores e temos também eletrodomésticos, da marca Beko. Começámos a importação em 2019 e o objetivo para março de 2022 é edificar a primeira fábrica de montagem de alguns equipamentos e também representar a marca sul-africana Defy, que é topo de gama. O valor investido na fábrica de montagem de fogões, ar condicionado, frigoríficos, entre outros, é de 2,5 milhões de dólares e, numa segunda fase, faremos a montagem de uma linha de televisores. Esta unidade fabril irá gerar um total de 150 postos de trabalho. Também se prevê a abertura de sete lojas, da marca Beko, em todo o país, que se juntam às 15 já existentes. 

Olhando para trás, sente que foi um percurso fácil ou não?
Estou no Grupo Imex há 20 anos, no início foi difícil, não tínhamos luz nem água, montar uma empresa em Angola significava enfrentar muitos obstáculos e importar material também. Se precisar de técnicos estrangeiros, mesmo para fazer formação aos nacionais, há ainda muita dificuldade na obtenção do visto, por isso, muitas vezes a sua contratação não foi possível e causou grande transtorno. Mas, quando olho para trás, fico contente e satisfeito com o trajeto; mesmo que tenha havido complicações e desafios, tudo foi melhorando a partir de 2007/2008. 

Como vê o futuro da indústria transformadora em Angola e qual será o posicionamento da IMEX? 
O Grupo IMEX quer manter o foco e a liderança no segmento dos produtos que fabrica. No caso dos sacos de ráfia, que para nós é um artigo novo, há um mercado muito vasto e, neste segmento, vamos também investir na produção de embalagens. Estamos confiantes no futuro de Angola, acreditamos que vai melhorar e voltar a ser um grande país e nós estamos aqui para o que for preciso. 

Sentiu semelhanças entre o Líbano e Angola?
O Líbano também passou por uma guerra civil, de 1975 a 1990, e muitos libaneses saíram do seu país. No Líbano há cerca de quatro milhões de libaneses residentes e 13 milhões vivem fora, sendo que desses a maioria vive no Brasil, cerca de sete milhões. A integração em Angola, foi como noutro país. Quem chega tem de se adaptar e integrar no que existe, sendo também importante aprender a língua do país de acolhimento. Para se ter sucesso em Angola, ou em qualquer outro país, um estrageiro tem de se integrar, trabalhar de forma correta e íntegra, aprender a cultura e modos de vivência e admitir quando falha ou erra.
T. Cristina Freire
F. Edson Azevedo